parece que a decisão sobre o que fazer da vida já foi tomada, aqui dentro. só falta pôr em prática. parece simples. não é.
elucidar questões a respeito de determinadas carreiras pode ser a chave para um vestibular mais tranquilo. no mínimo, dá segurança. se você é estudante ou mesmo educador, precisa conhcer isto: voltado para estudantes de ensino médio, as conversas de oscar fujiwara buscam esclarecer ouvintes a respeito de determinadas profissões.
vale a pena.
link abaixo
ouça podcast sobre profissões - clica
[josé paulo paes 1926 - 98]
AO SHOPPING CENTER
José Paulo Paes
Pelos teus círculos
Vagamos sem rumo
Nós almas penadas
Do mundo do consumo.
Do elevador ao céu
Pela escada ao inferno:
Os extremos se tocam
No castigo eterno.
Cada loja é um novo prego em nossa cruz.
Por mais que compremos
Estamos sempre nus
Nós que por teus círculos
Vagamos sem perdão
À espera (até quando?)
Da Grande Liquidação.
[in: "prosas seguidas de odes mínimas", cia das letras]
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criticando o consumismo, o eu lírico junta o espaço do shopping ao momento do julgamento final, à moda católica. o poeta afirma que "vagamos sem perdão", uma vez que o consumismo é símbolo de vaidade, ação tão condenada pelos católicos. olhem, gostar de si, querer agradar ao próprio ser é ruim para essa religião porque é a chance de que a pessoa seja mais dona de seus próprios atos e deixe de dar ouvidos a histórias de outros mundos.
aqui, o eu lírico não está criticando o catolicismo e suas leis punidoras, pelo contrário, condena os que frequentam shoppings centers e os trata como seres vazios. "cada loja é um prego" significa o erro de ser consumista, ou seja, ir ao shopping tira da pessoa a chance de ir à igreja. o poeta pune aquele(a) que compra.
o texto tem o caráter de uma "ode", ou seja, uma homenagem, na tradição clássica. no caso, uma grande ironia, como se lê ao final.
essas pessoas consumistas vazias esperam o grande perdão por serem o que são: consumidores. "grande liquidação", ao final, é trocadilho digno de aplauso. é instigante. é literatura.
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saiba mais :
retrato do mundo paralelo em que vivem bolsonaristas
milly lacombe escreve muito próximo do que eu gostaria de assinar. como sei que a ideia é multiplicar chance de melhorar a vida, coloco aqui trechos de seu artigo, de novembro, 2022:
Bolsonaro perdeu e seu bando tomou as ruas. Homens e mulheres vestidos em amarelo deixaram claro desde o domingo (30/11) à noite que seguiriam as ordens de seu mito e aguardavam coordenadas (...)
As coordenadas dadas a partir de Brasília foram cifradas e cada um interpretou como quis. Entre marchas com bandeira em punho e cantorias de hino nacional com saudação nazista, os patriotas berravam que a direita veio para ficar. Leia-se extrema-direita, evidentemente.
A anistia geral e irrestrita na década de 80, deixando sem punição os torturadores da ditadura, nos trouxe até esse estado alucinado e violento de coisas. Não podemos mais errar assim. (...) É preciso haver punição aos golpistas, aos policiais rodoviários prevaricadores, aos empresários que estão financiando a baderna. (...) Punir todos os responsáveis de forma categórica e exemplar. Em seguida, investigar as inúmeras suspeitas de crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro (...)
leia o texto de milly lacombe - clica
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CANÇÃO
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
— depois, abri o mar com as mãos,
para meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles [ Viagem, 1939 ]
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já escrevi mais sobre essa questão da escola na vida da comunidade em que está inserida. clique abaixo, me diz o que acha.
importância da escola - clica
CANÇÃO DE EXÍLIO
José Paulo Paes [1926 - 98]
Um dia segui viagem
sem olhar sobre o meu ombro.
Não vi terras de passagem
Não vi glórias nem escombros.
Guardei no fundo da mala
um raminho de alecrim.
Apaguei a luz da sala
que ainda brilhava por mim.
Fechei a porta da rua
a chave joguei no mar.
Andei tanto nesta rua
que já não sei mais voltar.
[in "prosas seguidas de odes mínimas", cia das letras]
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poema paródia do adocidado "canção do exílio", gonçalves dias, 1843.
aqui, século 20, ao contrário das boas expectativas no citado poema romântico, temos dose de pessimismo.
texto de caráter narrativo, revela que o poeta não viu, no passado, nem "glória" nem "escombro", ou seja, nada de ruim ou bom.
no fundo da mala, ou seja, dentro de si, vai um ramo de alecrim. na tradição europeia, era chamado de "rosmarino" -- flor do mar, para os romanos. aqui pelo país, é costume crer que o alecrim afasta inveja ou pesadelo. veja, mesmo não enxergando nada de ruim, no passado, melhor prevenir e botar alecrim na mala. é o medo. insegurança.
o eu lírico fecha a casa, joga a chave no mar, ou seja, busca distanciar-se de suas origens, de seus possíveis problemas, quer mudar de vida. a expectativa sobre o que esse eu lírico faz depois de tudo é quebrada, porque, no final, se descobre que talvez ele tenha se arrependido e só não volta porque se perdeu. outra leitura possível para esse desfecho você mesmo pode criar. é divertido. é literatura.
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saiba mais sobre josé paulo:
dentro desse mundo repleto de barbárie, há de se começar por algum lugar e, como trabalho em escolas, achei que poderia compartilhar o que pretendo fazer ano que vem com meus estudantes, todos do ensino médio. de repente ajuda, no mínimo, a combater essa enxurrada de violência, ódio e racismo. quiçá, mudar o mundo pra melhor, de uma vez.
1. "a vida não é útil" (krenak)
sugestão: 9o (fund2) e ensino médio
-- cuidar do planeta
-- relação do humano com a tecnologia
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2. "olhos d'água" (conceição evaristo)
sugestão: ensino médio
- - pelo menos dois contos: o primeiro e mais um
-- debate sobre racismo estrutural; amor; passado da negritude
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3. "pequeno manual antirracista" (djamila)
-- racismo institucional e estrutural
sugestão: ensino médio, 8o. e 9o. anos
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4. "campo geral" (g rosa)
sugestão: ensino médio
-- família o que é; infância; ética; busca de felicidade
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5. "o conto da ilha desconhecida" (saramago)
sugestão: ensino médio
-- busca de felicidade; rei versus povo; sonhar; coletividade; viajar
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6. "ideias para adiar o fim do mundo", krenak
sugestão: 9o. ano e ensino médio
-- ambiente; futuro; comunidades indígenas; tecnologia
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7. "o visconde partido ao meio" (calvino)
sugestão: 9o ano e 1a. série ensino médio
-- maniqueísmo; bem e mal; preconceito; democracia
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8. "cartola - dez sambas" (agenor de oliveira / música)
-- lirismo na literatura, desde idade média; questão social; identidade
sugestão: 8o. e 9o. anos; ensino médio
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as leituras precisam ser compartilhadas com pelo menos mais um educador, educadora... ideal era que toda classe docente, em algum momento do ano, tratasse de um tema -- pelo menos -- dentro da leitura escolhida; mesmo no caso das chamadas "exatas" é possível ter um instante pra discutir, por exemplo, como a ciência, pode colaborar para acabar com racismo, preservar mais a natureza etc. olhem, em "conto da ilha..." o tema é a busca de um lugar novo que muito bem pode estar dentro de cada um... navegar é preciso, diz um ditado luso... por isso, unir música, história e física pode tornar a leitura de saramago (item 5) algo surpreendente. é possível sim, juntar as áreas de matemática, arte e língua portuguesa para discutir economia, poluição, mundo digital, espírito colaborativo, reciclagem... ideia não falta.
olhe, se você acha que não dá pra salvar o mundo todo agora, a gente pode tentar salvar uma pessoa de cada vez, mês a mês, ano a ano.
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fernanda magnota deu a letra e publicou texto de respeito: por um brasil que não trate política como entretenimento.
[ jade picon e a sandália com temática afro ]
coloquei, aqui, dois textos como uma coletânea para você, estudante, se basear e desenvolver uma redação argumentativa: pode ser artigo de opinião, crônica argumentativa ou a clássica redação modo-enem, modo-fuvest etc.
os textos são estes abaixo, basta clicar, ler e voltar aqui
jade e acm neto - privilégios da branquitude
comunidade preta reage a jade picon
o que é importante desenvolver se encontrar proposta que exiga uma argumentação e ainda peça soluções para questão do racismo.
primeiro: diferença entre racismo estrutural e institucional.
- racismo estrutural: sociedade cresceu baseada na ideia de que o negro é inferior ao branco (também vale para comunidades indígenas)
- racismo institucional: prática de segregação feita por instituições que se sustentaram no racismo estrutural; por exemplo: empresas que simplesmente não contratam negros; publicidade de produtos apenas com modelos brancos etc
vamos à redação argumentativa
1. crie uma tese, sua, a respeito; por exemplo:
- racismo institucional se combate na escola e na infância -
2. argumentos que defendam a tese
(usei tópicos pra ficar objetivo / desenvolva parágrafo para cada item)
- com estudantes, promover podcast sobre o tema; mostra cultural contendo o assunto "negritude" e "raízes" da identidade brasileira
- documentário "amarelo", de emicida (toda escola)
- manual antirracista de djamila (qualquer idade) - livro
- niketche, paulina (ensino médio) - livro
- black power de akin, kiusam (fundamental 2) - livro
estes itens acima, quando desenvolver seu texto, devem reforçar a ideia de que através do debate, na escola, aumenta-se a chance do indívíduo crescer com clareza a respeito das diferenças sociais, étnicas, no país.
lembrar que no modo enem, antes da conclusão é preciso apresentar proposta de solução para o que foi dado no tema.
sendo assim, reforce a necessidade de um chamamento de toda a comunidade (família, vizinhança etc) para dentro da escola, durante atividades a respeito do racismo.
3. conclusão: reforço da tese, ou seja, através da educação e a vivência de toda a comunidade junto à escola, será possível minimizar e acabar com racismo estrutural e, consequentemente, o institucional
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saiba mais -- veja estes vídeos