ao shopping center - josé paulo paes - comentário
[josé paulo paes 1926 - 98]
AO SHOPPING CENTER
José Paulo Paes
Pelos teus círculos
Vagamos sem rumo
Nós almas penadas
Do mundo do consumo.
Do elevador ao céu
Pela escada ao inferno:
Os extremos se tocam
No castigo eterno.
Cada loja é um novo prego em nossa cruz.
Por mais que compremos
Estamos sempre nus
Nós que por teus círculos
Vagamos sem perdão
À espera (até quando?)
Da Grande Liquidação.
[in: "prosas seguidas de odes mínimas", cia das letras]
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criticando o consumismo, o eu lírico junta o espaço do shopping ao momento do julgamento final, à moda católica. o poeta afirma que "vagamos sem perdão", uma vez que o consumismo é símbolo de vaidade, ação tão condenada pelos católicos. olhem, gostar de si, querer agradar ao próprio ser é ruim para essa religião porque é a chance de que a pessoa seja mais dona de seus próprios atos e deixe de dar ouvidos a histórias de outros mundos.
aqui, o eu lírico não está criticando o catolicismo e suas leis punidoras, pelo contrário, condena os que frequentam shoppings centers e os trata como seres vazios. "cada loja é um prego" significa o erro de ser consumista, ou seja, ir ao shopping tira da pessoa a chance de ir à igreja. o poeta pune aquele(a) que compra.
o texto tem o caráter de uma "ode", ou seja, uma homenagem, na tradição clássica. no caso, uma grande ironia, como se lê ao final.
essas pessoas consumistas vazias esperam o grande perdão por serem o que são: consumidores. "grande liquidação", ao final, é trocadilho digno de aplauso. é instigante. é literatura.
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