DESENGANO _narcisa amália_ Quando resvala a tarde na alfombra do poente E o manto do crepúsculo se estende molemente, Na hora dos mistérios, dos gozos divinais Despedaçam-me o peito martírios infernais E sinto que, seguindo uma ilusão perdida Me arqueja, treme e expira a lâmpada da vida Feriu-me os olhos tímidos o brilho da esperança A luz do amor crestou-me o riso da criança: E quando procurei - sedenta - uma ventura, Aberta via a fauce voraz da sepultura!... Dilacerou-me o seio, matou-me a crença bela, O tufão mirrador de hórrida procela! Então pálida e triste, alcei a fronte altiva Onde se estampa a dor tenaz que me cativa:; Sorvi na taça amarga o fel do sofrimento. E a voz queixosa ergui num último lamento: Era o cantar do cisne, o brado da agonia... E a multidão passou soberba, muda, frial Desprezo as pompas loucas, desprezo os esplendores, Trilhar quero um caminho orlado só de dores: E além,...
" fantasmas ": conto de chimamanda adichie, no livro "no seu pescoço" em "fantasmas", professor de matemática james nwoye -- aposentado da universidade --, reencontra outro porfessor: ikenna, da área de sociologia. no passado, era combativo, exigia direitos melhores aos funcionários da universidade. james o vira pela última vez 37 anos antes, durante a guerra da biafra. era dado como morto, mas ikenna conta que foi para suécia. a ausência do amigo ikenna okoro pode representar para o professor james uma lacuna em sua própria história e identidade. a ausência de ikenna não é apenas a falta de um amigo, mas simboliza também a perda de um passado que foi devastado pela guerra, pelas mortes e pelas mudanças irreversíveis. a memória de ikenna pode estar associada a um tempo mais estável e promissor, antes da guerra transformar tudo em ruínas. assim, a ausência dele -- o professo ikenna -- funciona como um lembrete silencioso do que foi perdido: amigos, famili...
[ dahmer ] são muias as notícias e informações trágicas: pessoas que matam outras por ciúme ou dívida, urgências climáticas, nazismo em alta, ganância, desmatamento... precisamos nos defender. num passado não muito distante, grupos da chamada esquerda ideológica pregavam um estado diferente, com distribuição melhor da renda e reforma agrária. hoje, a situação piorou demais, tanto que a chamada esquerda se ocupa agora em defender esse estado que está aí, ou seja: eleição; educação; saúde pública e a não privatização de serviços como luz e água. o básico. precisamos nos defender. um caminho é o exercício da argumentação. a leitura. a arte, a ciência, o esporte. compartilhar saídas para esse caos ultra conservador -- filho da ganância -- é urge...
[ a rte c. h. carne iro - via i. a . - 20 2 5 ] ultimamente, rotina da vida é me desculpar. fiz isso algumas vezes, em conversa direta com quem eu acreditava que deveria pedir desculpas. com outras pessoas não consegui... por isso, tenho pedido desculpas mentalmente. parece hipocrisia. deve ser. faço isso com certa regularidade: a cada vez que respiro, mais ou menos. noutras situações, tento desculpar a mim mesmo, porque também sou vítima de minhas escolhas. tudo fica difícil quanto mais elaboro a coisa toda dentro da cabeça. fora dela, tento pedir desculpas. deve haver quem sinta raiva ainda ou quem quer simplesmente que eu me exploda. entendo. errei com várias pessoas. escolhas minhas. buscava acolhimento ou algo similar que, talvez, nunca me deram no início da vida, fazer o que. nunca me deram ou ...
[ rupestre moderno - versão engraçada feita por i. a. - fev 2025 ] já fui um velho livro esquecido numa biblioteca subterrânea. ninguém sabia quem me escrevera, nem por que me haviam trancado ali. quem me folheou dizia que as páginas mudavam a cada leitura. o texto se embaralhava, era assombroso. às vezes, eu era um romance trágico; em outras, um tratado filosófico. houve quem jurasse ter encontrado fórmulas matemáticas nunca vistas antes, enquanto outros diziam que eu contava segredos de borboletas extintas. vai vendo. todos que leram, morreram. se bem que é normal humanos morrerem. até aí, as coisas. por séculos, permaneci intocado, até que uma criança -- chata, com certeza -- desobedecendo às placas de "cuidado" e "sopa de letrinhas fervendo", acabou me encontrando. a tal criança remelenta abriu minhas páginas e, pela primeira vez, eu soube o que era ter alguém que me lesse com curiosidade. e sem ...
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