maio de 1500. último ano do século 15. brasil.
pero vaz de caminha, escrivão da frota de pedro álvares cabral, escreve ao rei dom manuel
em função de seus antecessores terem prestados serviços à coroa portuguesa e ser amigo do rei -- literalmente -- pero vaz aproveita de suas funções de escrivão oficial para fazer, ao final da carta, pedido pessoal ao rei: solucionar situação do degredado jorge de osório, genro de caminha. jorge estava na ilha de são tomé. por isso, a carta apresenta caráter íntimo, não apenas histórico
a carta-narrativa de pero vaz é um clássico histórico e artístico, pois traz o estilo do escrivão composto de humildade e devoção à coroa. além de trechos de pura ficção, como a descrição do episódio do encontro dos índios com cabral e sua comitiva. caminha faz uma narrativa de viagem em forma de carta (datação, local, destinatário etc). começa o texto por "senhor".
no texto, registros de caminha:
- partida: 9 de março, belém, 1500, lisboa.
- dia 14, nas ilhas canárias.
- dia 22 de março, um dos pilotos, pero escolar, avistou ilha de s. nicolau, pertencente às ilhas de cabo verde. eram dez horas, mais ou menos, segundo o escrivão.
- dia 23, noite: frota de vasco de ataíde se perde. diligências são feitas na região, mas "não apareceu mais!"
trecho importante, na sequência do desaparecimento de vasco:
"E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até que, terça-feira das Oitavas de Páscoa,
que foram 21 dias de abril, estando da dita Ilha obra de 660 ou 670 léguas, segundo os pilotos
diziam, topamos alguns sinais de terra, os quais eram muita quantidade de ervas compridas, a que os
mareantes chamam botelho, assim como outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira
seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buxos."
* oitavas de páscoa - oito dias depois da comemoração da páscoa
* botelho e rabo-de-asno - vegetais, plantas, provavelmente usadas para conter hemorragia nasal
* fura-buxos - aves aquáticas típicas do mar dos açores; chamadas "chiretas", são da família dos procelarídeos, voam grandes distâncias sobre oceanos
em princípio, a terra foi chamada "vera cruz"
em seguida, narra a chegada em terra, dia 23, quinta-feira, abril:
"E à quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitos à terra, indo os navios pequenos diante, por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, treze, doze, dez e nove braças, até meia légua da terra, onde todos lançamos âncoras em frente à boca de um rio."
na terra foi deixado o degredado, condenados pela justiça portuguesa, afonso ribeiro
na quinta-feira, 30 de abril, capitão recomendou que ao sair dos batéis (pequenas embarcações) fossem todos à cruz e que a beijassem para mostrar aos índios a devoção. por ingenuidade e extasiados de novidade, alguns índios imitaram os gestos de cabral e seu grupo. ao que caminha conclui :
"E assim fizemos. E a esses dez ou doze que
lá estavam, acenaram-lhes que fizessem o mesmo; e logo foram todos beijá-la.
Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e
eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma (...)"
como assim, não têm crença?...eles só não eram cristãos. ah, os europeus donos do mundo!
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