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terça-feira, 27 de julho de 2021

queimar monumento é igualar-se ao que se quer combater

 

são paulo. bairro de santo amaro. julho 2021.
o ataque a fogo contra a estátua de manuel de borba gato (1649-1718) é assustador.
borba gato era genro de fernão dias -- aquele das esmeraldas -- e foi bandeirante brabo. é necessário rever homenagens desse tipo sim, isso é fato. protestar ante esse símbolo de violência é legítimo. querer a remoção da peça do seu lugar também é.

agora, simplesmente vilipendiar o monumento como se fosse a solução para os supostos crimes que ele cometeu no passado é burrice. 
não é apagando a história que se vai compreendê-la e melhorá-la.
se assim fosse, era só mudar o nome das ruas e avenidas "floriano peixoto" brasil afora, queimar estátuas de getúlio vargas, alterar o nome da rodovia castelo branco que tudo ficaria harmônico e mais democrático.. não dá.
necessário é não mais registrar logradouros públicos com nome de gente que cometeu crimes. simples assim.
respeito quem tem se manifestado contra a existência de estátuas como as de borba gato. mas quem queima não respeito não.
existem inimigos maiores, hoje.

sábado, 2 de janeiro de 2021

aspirina de joão é melhor que um poema?

                                   


já precisei de remédio pra dor. dor de cabeça, muscular, pra melhorar da cirurgia e até pro fígado suportar o que ingeria. também tomei remédio pra gripe, tosse, diarreia, dor de dente, má digestão. o gosto deles não lembro. mas tinham efeitos. geralmente resolviam a coisa.

joão cabral, poeta de nomeada, sofria de enxaqueca e dedicou poema para um comprimido. chama-se "num monumento à aspirina". é até bonito. mas poesia a gente não come, não dilui em água, não dá pra dizer que ela cura totalmente a solidão. pode ocupar determinado tempo, depois a solidão volta. há controvérsias...
e há quem chame a dor da gente de nervosismo. outras dizem que é ansiedade. culpa é nome que serve, vez ou outra. medo é nome comum. depressão já ouvi também. 

  NUM MONUMENTO À ASPIRINA

         João Cabral de Melo Neto

Claramente: o mais prático dos sóis,
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda a hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia...

. . . . . .  .  .  .  .  .   .   .   .   .

acho que todo mundo já passou por essa de sofrer solidão, angústia. uns mais, outros menos. remédios existem. alguns são de engolir outros de sentir. mas existem.
poesia pode ajudar. pensei em chamar joão cabral e pedir opinião, consulta. poeta geralmente é bom na palavra. mas joão está morto. está sem dores, eu sei. mas morto. poesia e aspirina. vale a pena comparar uma coisa e outra?