filme dirigido por kleber mendonça filho e juliano dornelles, bacurau (2019) é catarse premiada.
narrativa que reúne elementos de um brasil guerreiro com referências à guerra de canudos, lampião e trajetórias de resistência política ante à possibilidade de que o país se torne quintal de jogos de norte-americanos.
o museu de bacurau expõe um passado de luta e isso se faz chave para compreender o desfecho.
o que é o filme:
narrativa se passa no sertão de pernambuco, século 21.
bacurau é um vilarejo que precisa de água e ela vem com caminhão pipa de outra cidade.
o começo é impactante: caminhão pipa traz, além do motorista e da água, teresa, jovem liderança da região que volta à cidade para enterro da avó carmelita. nesse percurso, estrada precária, o caminhão chega a passar por cima de caixões, à beira da estrada. mais adiante, revela-se que um acidente com motociclista pode ter causado a tragédia e o tombamento da carga de um caminhão carregado de caixões.
bacurau é um pássaro, vive como corujas, à noite. mas tem a peculiaridade de ficar no chão, não em árvores.
a narrativa traz personagens brasileiros simples mas contundentes em suas posturas: prostitutas, cantador, homossexuais, negro, assassino, professor, crianças livres, donas de casa, dentre outros. todos se respeitam, convivem, sem preconceito.
a trama : candidato à reeleição, tony júnior se mostra hipocritamente acolhedor ante as necessidades do povo de bacurau. o vilarejo é espécie de distrito da cidade onde tony jr exerce prefeitura. ele é rechaçado pela população que se recolhe às casas deixando a cidade vazia quando o político passa. esta figura que -- de modo caricato -- tirou o vilarejo do mapa -- por vias tecnológicas -- representa boa parte da política corrupta nacional e permitiu que grupo de norte-americanos viesse para praticar a caça humana.
isolados, sendo atacados e mortos, povo de bacurau pede ajuda a lunga, um refugiado numa região de represa que, ao que indica a narrativa, teria entrado em conflito com o povo no passado recente. lunga aceita ajudar a cidade e, juntos, eliminam os estrangeiros. quase simples assim.
o museu mostra imagens antigas de um povo resistente, à época do cangaço.
a resistência parte do museu e da escola, repara nisso.
valem dois detalhes: a abertura do filme se dá com imagens do espaço, com um satélite cruzando a cena, da esquerda pra direita e o planeta, ao fundo, bem redondo, como manda o figurino. outro: um dos personagens produz, à base de planta, um alucinógeno que vai ser fundamental no combate aos fortemente armados estrangeiros que vêm á cidade pra praticar o jogo da caça respaldados pelo prefeito tony júnior. as cabeças dos estrangeiros são expostas na rua, numa citação explícita -- como vingança -- dos cangaceiros mortos e degolados pela polícia brasileira, século 20. o grupo de lampião e maria bonita foi assassinado.
repare que, ao chegar, teresa recebe uma dose em forma de comprimido, desse alucinógeno, com intuito -- talvez -- de permitir que ela suportasse a emoção de encontrar a avó falecida. no enterro, o ponto de vista de teresa prevalece e nota-se que ela tem a visão de uma água limpa saindo do caixão da avó.
uma das canções da trilha é "réquiem para matraga", geraldo vandré.
vem bem a calhar nos momentos de vestibular! guimarães rosa e seu "a hora e a vez de augusto matraga".
uma homenagem ao país com certeza. homenagem à diversidade e necessidade de união contra venda do país, um soco no estômago do bolsonarismo. me lembrei da "bíblia véia e pistola automática" da música "gênesis", racionais, em "sobrevivendo no inferno".
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