professor desempregado tenta recitar poesia na rua mas não dá tempo
"dura muito pouco o vermelho", disse ele.
a saga do professor sem emprego em conseguir uns trocados é épica, se permitem redundância.
domingo passado, ele tentou ler "morte do leiteiro", de carlos drummond, mas nunca consegue terminar a leitura. o sinal abre e os carros partem sem lhe entregar uma moeda.
"drummond é perfeito pra esse tipo de situação porque é simplesinho."
"um dia, recebi dois reais antes de começar a leitura", ele conta entre risos.
"é drummond?" perguntou a motorista.
eu disse "é".
ela sacou dois reais da bolsa e:
"recita não! prefiro cheiro de óleo diesel". aceitei.
numa tarde meio chuvosa arrisquei recitar "navio negreiro", do castro alves. pessoal parecia não entender. alguns suspiravam aliviados quando o sinal abria.
"vou arriscar ana cristina cesar, de repente dá tempo", afirma o professor, já correndo pra um honda civic
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