falei com meus alunos a respeito de "ensaio sobre a cegueira", saramago. gosto do livro, feito no final do século 20, traz visão sombria do desconhecimento que cada um tem de si mesmo. lembro duas coisas singelas e pesadas, nessa história de arte e organismos. "the lovers", renne magritte e "a virgem maria", manuel bandeira.
embora magritte tenha falecido
em 1967 e bandeira no ano seguinte, são estradas marcantes do olhar preso.
a tela do belga é aparentemente simples, um casal com os rostos cobertos por
pano branco. nos versos do pernambucano, a cobertura é outra...
o poema é assim:
A VIRGEM MARIA
O oficial do registro civil, o coletor de impostos o mordomo
[da Santa Casa e o administrador do
cemitério de S João Batista
Cavaram com enxadas
Com pás
Com as unhas
Com os dentes
Cavaram uma cova mais funda que o meu suspiro de renúncia
Depois me botaram lá dentro
E puseram por cima
As Tábuas da Lei
Mas de lá de dentro do fundo da treva do chão da cova
Eu ouvia a vozinha da Virgem Maria
Dizer que fazia sol lá fora
Dizer insistentemente
Que fazia sol lá fora.
[ M Bandeira ]
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