o marinheiro - - teatro estático, fernando pessoa, portugal, 1913
estilo do texto: paulismo e simbolismo o que é: trata-se uma tendência de vanguarda na literatura portuguesa de viés impressionista, com valorização de paisagens interiores; o sonhar e a introspecção
veja a apresentação da peça:
o ator alex ribeiro -- "assisto porque gosto" -- escreveu:
"Três irmãs (...) velam por uma donzela de branco, em seu caixão. Quatro tochas acesas, uma única janela ao fundo, de onde se veem uma colina e, mais ao longe, um azul que pode ser o mar. A lua intensa ilumina o velório. Esse é o cenário que propõe Fernando Pessoa, e que não servirá de apoio a nenhuma ação, no máximo, será um ressonador dos sonhos e angústias das três veladoras. O silêncio é sempre presente, aumentando a inquietação por parte delas. É preciso quebrar o silêncio (...)"
para passar o tempo, conta-se história. a segunda veladora -- uma das irmãs -- vai falar do sonho que teve: um marinheiro chega a uma ilha e sonha com um país perfeito, diferente.
trata-se do espírito sebastianista, neste enredo. uma alegoria de um portugal melhor, imperialista.
“Diziam que, entre as nações sobreditas, moravam
algumas monstruosas.
Uma é de anãos, de estatura tão pequena, que parecem
afronta dos homens chamados Goiasis.
Outra é de casta de gente, que nasce com os pés às avessas, de maneira que quem houver de seguir seu caminho
Há de andar ao revés do que vão mostrando as pisadas; chamam-se Matuiús.
Outra é de homens gigantes, de dezesseis palmos de alto,
adornados de pedaços de ouro por beiços e narizes,
e aos quais todos os outros pagam respeito; têm por
nome Curinqueãs.
Finalmente que há outra nação de mulheres, também monstruosas no modo do viver (são as que hoje chamamos Amazonas, e de que tomou o nome o rio) porque são guerreiras, que vivem por si só sem comércio de homens; vivem entre grandes montanhas; são mulheres de valor conhecido...”
Pe. Simão de Vasconcelos(Crônica da Cia. de Jesus no Est. do Brasil 1663) -- in: TARDE --Olavo Bilac 1919
a partir deste ralato do padre simão (século 17) -- publicado em "tarde" --, bilac irá desenvolver cinco sonetos: "os monstros", "os matuiús", "os goiásis", "os curinqueãs" e "as amazonas". poemas descritivos sobre seres folclóricos, na tradição indígena brasileira e também o mito das amazonas que remonta a grécia antiga. aqui, as figuras americanas mostradas como seres a se evitar, malignas. pura visão ainda europeia das comunidades do brasil indígena. faziam então espécie de propganda negativa autorizando pessoas a considerar ruins essas comunidades nativas. somente em "as amazonas", último soneto da série "diziam que...", nota-se algum respeito pelo mito feminino. bilac não hesita em recuperar, via texto do século 17, uma visão superada da cultura indíegena, o que torna esses poemas, em pleno século 20, puro preconceito... mas é ficção, dirão alguns. mas é bilac, direi eu.
o relato do padre lembra diários de viagem dos séculos 15 e 16, quando navegantes tomados por excesso de misticismo ou bebida acreditavam em monstros marítimos, terrestres que atacariam pessoas, feito sereias ou o gigante adamastor, lá em "os lusíadas".
filme de animação com narrativa sensível, apesar de previsível. funciona assim: figura feminina precisa resgatar pedaços de uma pedra, a joia dos dragões, para trazer pessoas e também outros dragões de volta à vida. para isso, necessário é a união dos povos humanos, pois cada comunidade -- cinco, na história -- detém uma parte da pedra. e as comunidades são inimigas. como se lê no título, um dragão sobrou e vai ser motivador para raya buscar um caminho para reconstruir a pedra que se quebrou. por que isto aconteceu, só mesmo vendo o desenho.e vale a pena. figuras femininas detêm poderes. isso incluiu personagem mágico, o dragão, que é fêmea. dar o primeiro passo buscando conciliação requer coragem e é o mesmo que responsabilizar-se pelo custo disso. pode dar certo, pode não dar. mas iniciativa de união vale qualquer resultado.
coloco aqui, trecho do artigo de ana rosa, na folha de s paulo 2021:
"Algoritmos têm se mostrado ferramentas de reprodução de preconceito,
injustiça e discriminação. Num ambiente automatizado, questões de gênero
e de raça podem resultar em exclusão ou perpetuação de desvantagens (...) Algoritmos são códigos com instruções para execução de uma tarefa ou
solução de um problema e, na atualidade, representam a forma mais
eficiente para identificar, organizar e atingir um mercado. Assim como
podem ser inclusivos, está comprovado que são também absurdamente
excludentes.
Por isso, uma questão relevante é quem os programa, como e com que
motivação. Conscientemente ou não, preconceitos são embutidos nos
algoritmos e reproduzidas pelas máquinas”. [ folha de s paulo, 23 maio 2021 ]
olhem, o assunto é mais do que grave. falei, em 2020, sobre o tema -- ver vídeo abaixo -- e resvalei nessa questão. já adianto: não vale a pena demonizar redes sociais e os tais esquemas de algoritmos. hoje, não dá pra simplesmente deletá-los do planeta. o que se deve pensar é na melhoria deles. eu ja deixei o twitter por não ver utilidade naquilo e, mais recentemente, saí do facebook por puro cansaço. os incomodados que se mudem. agora, o que faz do ser humano médio figura tão dependente desse cordão umbilical tecnológico? como utilizar vias digitais para melhorar cotidiano da humanidade e da natureza? parece que boa parte ddessa história, hoje, passa pelo consumismo. daí pergunto: como discutir o consumismo dentro de um universo capitalista? o mesmo que debater técnicas de mergulho com quem não sabe nadar. ou uma plenária de maioria masculina, no brasil, tratando do aborto. não resolve. com a palavra, educadores e tecnólogos.
O esforço é grande e o homem é pequeno. Eu, Diogo Cão, navegador, deixei Este padrão ao pé do areal moreno E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita. Este padrão sinala ao vento e aos céus Que, da obra ousada, é minha a parte feita: O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano Ensinam estas Quinas, que aqui vês, Que o mar com fim será grego ou romano: O mar sem fim é português.
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma E faz a febre em mim de navegar. Só encontrará de Deus na eterna calma O porto sempre por achar. [ Mensagem, F Pessoa, 1934 ]
poema que se inclui na segunda parte do livro "mensagem" -- nomeada "mar português". quem fala é diogo cão, navegador que primeiro chegou ao litoral africano do congo (1482-84) e criou esse tipo de marco, um padrão, ou seja, elemento físico da marca das invasões portuguesas (muita gente chama de "expansão"). o trabalho de cão é base para o que iria fazer vasco da gama, em 1498.
a cruz é a referência ao destino luso da navegação, ou seja, um ser divino tornou possível aos portugueses as viagens e, consequentmente, o aumento do império. vale sempre reforçar que a cruz também pode ser referência aos templários: ordem da qual faziam parte tanto vasco como pessoa, por exemplo. "alma imperfeita", verso 1, mostra que cabe ao homem, segundo este e outros poemas, sonhar com uma vida plena, perfeita, ou seja, com domínio sobre as terras, formando quinto império. insisto: no texto, sonhar é possível...realizar, só com deus.
"mensagem" faz referência a fatos históricos da vida portuguesa, daí sua proximidade com "os lusíadas", de camões. contudo, os poemas de pessoa apresentam uma abrangência tal que, sozinhos, não dão ao leitor clareza didática a respeito do momento histórico tratado neste ou naquele poema. é necessário, então, conhecimento mínimo prévio de eventos da história portuguesa.
veja nosso vídeo sobre livro "mensagem", aqui, para ajudar melhor.
"Não há um salvador do BraZil. Nunca existiu e nunca vai surgir. Ninguém vai aparecer pra decidir tudo sozinho. Política se faz com partidos, projetos e alianças. Inclusive alianças com políticos e partidos de tendências opostas. Se eu quiser que o país seja mais democrático e includente, então o que eu posso esperar do futuro presidente é o quê? Que ele use de suas capacidades para fazer alianças que permitam isso. Em 2016 as alianças fizeram o oposto. Jogaram o país numa crise imensa que resultou nessa katastrophe. Em 22 os partidos e a grande maioria dos congressistas serão os mesmos. O que pode mudar será a capacidade de se organizar uma aliança que sustente um projeto democrático em um governo democrático. Então o voto proporcional dado para vereador, deputado estadual e federal, para senador é muito decisivo. O salvador do BraZil somos nós mesmos. Ou o carrasco." [ maio, 2021]
concordo com tudo. por isso, não entendo por que, em pleno maio de 2021, o psol lança candidatura à presidência, 2022. é triste. num discurso recente, neste mesmo mês de maio, glauber braga (o candidato) afirmou: "Buscaremos construir uma plataforma comum na esquerda – mas precisamos estabelecer limites evidentes, por exemplo, não podemos sentar à mesa para discutir uma plataforma comum com nomes como Doria, Moro, Maia e Lemann" .
pois justamente com estas pessoas (maia, doria, p. ex.) é preciso conversar. e, claro, propor alianças.
são figuras que têm representatividade em parcela da população. democracia se faz assim.
já houve erros, de grupos ditos de esquerda, quando do golpe de 2016 e, depois, falta de unidade total nas eleições de 2018.
agora -- falemos a verdade -- para surpesa de zero pessoas, há lançamento de candidatura à presidência, pelo psol. será que não aprenderam? que absurdo! falta de estratégia plena. psol é o novo psdb.
pedra no sapato de nove entre dez jovens de classe média, o romantismo, em literatura, precisa ser mais simples. mais simples porque parece estar pregado no século 19. bobagem. no 21, surge um travamento ímpar. pouca gente está disposta a expor-se, a dizer que ama, mesmo que não haja compromissos íntimos possíveis. e é bom dizer que se ama, creia. mas o que se tem é silêncio. um peso. em sala de aula, li "este inferno de amar", do garrett. um recurso quase secular meu, para ilustrar a teoria da coisa. no texto -- curto -- o eu lírico se mostra confuso quanto ao que sente. parece novidade.
por isso, ser romântico, até hoje, soa como um problema. um mal. por que será?
olhem, que o romantismo -- em literatura -- está associado à morte ou ao gótico, isso é lá é verdade. até o grupo pop rock "the cure", inglês, desenvolvia canções nessa linha depressiva e noturna, no século 20. agora, na prática, em dia de semana, por que tem sido difícil expor sentimentos sem culpa?
será mesmo um problema quase patológico essa vivência da paixão?
às vezes tenho vontade nenhuma de me mexer, tenho sensação de que cada movimento, frase ou gesto resultará em tragédia ou, simplesmente, em nada, zero. às vezes há alguma euforia. do tamanho dos comprimidos que tomo. saúde mental é um coisa delicada. pouca gente entende. quase ninguém acolhe. tenho pesadelos recorrentes. nasci em dezembro, dia 19. e a história desse vírus "19" parece piada ruim. enfim, não fico pensando muito nisso, seria enxugar gelo.
já me considerei artista, educador, cozinheiro e fotógrafo. também motorista, herói da marvel, prefeito, falso nove, ator, guitarrista, fernando pessoa, gustavo kuerten, ridley scott e macunaíma.
um poema do italiano dante alighieri (séc 14) é versão lírica -- provocante -- daquilo que mary shelley faria, no século 19, quinhentos anos depois. um milagre, dirão uns. ficção, sussurrarão outros.
veja:
Tanto gentile e tanto onesta pare la donna mia, quand'ella altrui saluta, ch'ogne lingua deven tremando muta, e gli occhi no l'ardiscon di guardare. Ella si va, sentendosi laudare, benignamente e d'umiltà vestuta; e par che sia una cosa venuta dal cielo in terra a miracol mostrare. Mostrasi sì piacente a chi la mira, che dà per li occhi una dolcezza al core, che 'ntender nolla può chi nolla prova. E par che de la sua labbia si mova un spirito soave pien d'amore, che va dicendo a l'anima: Sospira.
Dante Alighieri [in: Vita nouva ] séc 14
a melhor tradução pra mim é a de augusto de campos mesmo
É tão gentil e tão honesto o ar de minha Dama, quando alguém saúda, que toda boca vai ficando muda e os olhos não se afoitam de a fitar.
Ela assim vai sentindo-se louvar na piedosa humildade em que se escuda, qual fosse um anjo que dos céus se muda para uma prova dos milagres dar.
Tão afável se mostra a quem a mira que o olhar infunde ao coração dulçores que só não sente quem jamais olhou-a.
E quando fala, dos seus lábios voa Uma aura suave, trescalando amores, que dentro d'alma vai dizer:
"Suspira!"
campos optou por traduzir em forma de soneto, marca dos italianos. a figura amada é transmutada em angelical matéria de fé e
realidade. uma beleza de paradoxo. suspira. para expressão "donna mia", augusto foi de “dama”, mantendo as nasais. e a "cosa venuta dal cielo" virou "anjo" mesmo. excelente solução.poeta criador de um inferno bem à moda cristã, dante, aqui, parece estar mais pagão, mais humanizado do que em "a divina comédia". amor que tira gente dos infernos?
o anjo veio, está lá, no texto, para dar provas de milagre. no meio do poema, a palavra “milagre”. e este -- imagina-se -- deve ser o amor. mas pode ser outra coisa. o que seria?... a falta que os nomes fazem. mas deve ser bom não saber nomear certas coisas.