sexta-feira, 22 de maio de 2020

anchieta - olavo bilac



outro soneto do livro "tarde", bilac, 1919.

josé de anchieta (1534 - 97) foi, segundo história oficial, o primeiro a fazer poesia, no país, ficção. também publicou estudos sobre a língua tupi.
o padre -- nascido nas ilhas canárias (espanha) -- é comparado a um santo: francisco e também a um mito grego: orfeu


   ANCHIETA

Cavaleiro da mística aventura,
Herói cristão! nas provações atrozes
Sonhas, casando a tua voz às vozes
Dos ventos e dos rios na espessura:

Entrando as brenhas, teu amor procura
Os índios, ora filhos, ora algozes,
Aves pela inocência, e onças ferozes
Pela bruteza, na floresta escura.

Semeador de esperanças e quimeras, 
Bandeirante de “entradas” mais suaves,
Nos espinhos a carne dilaceras:

E, porque as almas e os sertões desbraves, 
Cantas:Orfeu humanizando as feras,
São Francisco de Assis pregando às aves

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as aspas em"entradas" são denunciadoras.
sabe-se que entradas e bandeiras, aqui, foram expedições para expansão do território, busca de minério, aprisionamento de índios, possíveis mortes de quem não queria se converter ao cristianismo, tampouco ser escravo. enfim, na sede de manter limpo o perfil do padre, o poeta coloca aspas na palavra "entrada", mudando um pouco seu sentido original, ou seja, anchieta fez sim parte desse processo que autorizava violência contra os índios, mas foi suave, no mínimo conivente... chamá-lo de "semeador de esperanças", nesse contexto, chega a ser doloroso. mas a ideia é mesmo a idolatria que aproxima o poema do gosto romântico, apesar do estilo ser mesmo parnasiano. ainda segundo o poema, o padre esteve com índios bons (aqueles que aceitavam o catolicismo), teve a pele ferida pelos espinhos da mata (lembra coroa de espinhos sim), então, digamos, sua cumplicidade na violação da vida selvagem estaria compensada.


terça-feira, 19 de maio de 2020

os sofrimentos de wetrher: livro levou muitos ao sucídio





pois é, final do século 18. alemanha.
escritor ícone de seu tempo e de outros.

goethe (1749 - 1932) produziu um diário e botou um autor: o jovem werther.

historinha simples, creiam.

o pós-adolescente se apaixona por carlota. esta, por sua vez, é noiva de alberto.
este, por incrível que pareça, respeita werther o considera até amigo.

carlota, ao final da história, se casa mesmo com alberto.

werther atira em si mesmo. agoniza por umas doze horas.

morre.

se fosse só isso, moleza.

mas leitores da obra não resistiram à catarse.

dezenas e dezenas de jovens e outros nem tão novos, tiraram a própria vida depois da leitura... ou fizeram de raiva, pelo estilo adocicado da narrativa, ou se identificaram com o enredo e os sofrimentos.

o que fica disso tudo é o quanto de silêncio e falta de empatia sofrem os jovens e, claro, adultos também.

não deixe seus próximos sozinhos...

ouça.

acolha.

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saber mais ? clica e vê


sábado, 16 de maio de 2020

língua portuguesa - olavo bilac




mais um poema do livro "tarde", 1919, bilac

"última flor do lácio" o que é?

o latim, base da língua portuguesa, nasceu na região do lácio, próximo a roma

dele, latim, vieram o romeno, francês, espanhol e, por fim, o português


logo, a língua é a última flor, um eufemismo para o latim que termina sua jornada no idioma de camões

aqui, homenageia a língua portuguesa mas faz ressalva, afirmando que ela ainda é um tanto rude, barulhenta...

não é do estilo do poeta expor a vida em sociedade, a realidade.

bilac escrevia para os próximos, para um grupo elitizado que via no vocabulário raro, nas tramas de uma sintaxe mais complexa um certo engrandecimento do idioma

ainda bem que gente como guimarães rosa, oswald de andrade, carolina de jesus, patativa do assaré -- e tantos outros -- trataram de valorizar nosso idioma sem pedantismo

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LÍNGUA PORTUGUESA


Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


nota
trom e silvo - barulhos de canhão; estrondos
procela - tempestade

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quarta-feira, 13 de maio de 2020

hino à tarde - olavo bilac




primeiro poema do livro "tarde", 1919.
publicado postumamente, pois olavo bilac faleceu em 1918.



  HINO À TARDE

 Glória jovem do sol no berço de ouro em chamas,
 Alva! Natal da luz, primavera do dia,
 Não te amo! Nem a ti, canícula bravia,
 Que a ti mesma te estruis no fogo que derramas!
 
 Amo-te, hora hesitante em que se preludia
 O adágio vesperal, - tumba que te recamas
 De luto e de esplendor, de crepes e auriflamas,
 Moribunda que ris sobre a própria agonia!

 Amo-te, ó tarde triste, ó tarde augusta, que, entre
 Os primeiros clarões das estrelas, no ventre,
 Sob os véus do mistério e da sombra orvalhada,

 Trazes a palpitar, como um fruto do outono,
 A noite, alma nutriz da volúpia e do sono,
 Perpetuação da vida e iniciação do nada...

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nota
estruis  - estraga
adágio - sentença, ditado
nutriz -  mulher que amamenta
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soneto com versos alexandrinos, doze sílabas
- poeta não gosta das manhãs, mas do fim do dia porque a tarde é mãe da noite
- a tarde, quando moribunda, prenuncia os clarões das estrelas

poema simbólico sobre a carreira do poeta que, de fato, chegava ao fim

saiba mais! vídeo abaixo



domingo, 10 de maio de 2020

estudando literatura sozinho? dicas para ensino médio


                                         [ prof carneiro em seu canal letradeletra]

quatro aulas importantes para seus estudos de literatura

clique para assistir


funções da linguagem -


figuras de linguagem -

o que é romance -

                     

o que é soneto - 

sexta-feira, 8 de maio de 2020

é preciso coragem




maio de 2020.
pandemia.

país mostra sua realidade que é a falta de saneamento básico, políticas públicas de saúde decentes e apoio à educação. 

quando houve algum cisco de ação em prol de quem mais precisou, um ex-presidente foi preso -- sem provas -- e uma presidenta deposta por casuísmos mais políticos do que econômicos. 
quando escrevo, os corpos chegam a nove mil, desde meados de março, quando a contagem se deu. centenas de milhares de infectados.
pessoas agonizam.

e há lideranças políticas que desdenham da pandemia, das mortes, da pobreza.

é preciso coragem para resistir ao surto.

o sentimento, hoje -- posso piorar amanhã -- é de mágoa com quem apoiou essa plataforma política, no fim de 2018. 
avisos não faltaram.
quem está na linha de frente, na vanguarda, são os profissionais de saúde. 
todos eles, médicos, auxiliares de limpeza, motoristas de ambulância, enfermeiros, estudantes, estagiários, residentes, secretários, e eles ainda são apedrejados! 

já senti muita raiva -- muita mesmo -- de quem votou pela volta das perseguições à ciência e ao desmatamento. já senti raiva. hoje, não sei que nome dar ao que vai em mim.

sinto muito, não consigo ser otimista hoje. 

segunda-feira, 4 de maio de 2020

como sobreviver ao covid e à ignorância letal



se você que me lê gosta da vida, natureza, convívio saudável, respeitando diferentes, argumentando no rumo da harmonia, então, preciso ajuda.

combater a avalanche de notícias falsas, enfrentar o discurso contra quarentena e contra máscara, defender profissionais de saúde, além de querer manter-me vivo, são elementos que se movem pela minha cabeça.

pessoas fazem carreata contra quarentena. pessoas morrem. 
gente sai de casa porque crê estar bem de saúde, sem sintomas de coronavírus. e essa gente espalha doença. pessoas morrem.

hoje, a ideia é impedir que essa pandemia de ignorância letal tome nossa história.

preciso ajuda para realizar esta tarefa.

pensei nestes passos:

1. divulgar notícias sobre importância do confinamento

2. compartilhar matérias (artigos, entrevistas etc) sobre o papel das escolas, na formação cidadã

3. reforçar que educadores, educadoras, em geral, têm responsabilidade de transmitir aos mais jovens que é vital respeitar o próximo, continuar os estudos, acreditar na ciência porque ela é o óbvio motivo da existência

sábado, 2 de maio de 2020

macunaíma - herói sem caráter - comentário





romance

1928
mário de andrade

modernista e antropofágico

chamado "romance rapsódia"

narrativa expressionista, surrealista, divertida e sarcástica

qual a importância?

o que é antropofagia?

e rapsódia?...

o que acontece com macunaíma, ao final?

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clica para descobrir tudo!



quinta-feira, 30 de abril de 2020

navio negreiro e o desespero


                                              [ rugendas, século 19 ]

falei com meus alunos, esta semana, sobre castro alves.
claro, o destaque é navio negreiro

a negritude.

a denúncia social.

há os excessos de interjeições, hipérboles e exclamações. 
forças previsíveis do estilo.

a juventude inerente à subjetividade de seus versos também conta.

com certeza, melhor poeta que casemiro de abreu, álvares ou mesmo gonçalves de magalhães. 

em "navio negreiro" há revolta, nas palavras do poeta, mas, no limite, ela clama por deus, chama as ondas do mar, os ventos, até um tufão é gritado.

não se trata, neste caso, de crítica social como se viu em "o primo basílio" (eça) ou "quincas borba" (machado), livros do período posterior ao romantismo.

é um clamor de desespero.

é castro alves

é o romantismo.

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segunda-feira, 27 de abril de 2020

capítulo 4 versículo 3 - racionais mc's



racionais mc's
sobrevivendo no inferno, 1997

a letra de capítulo 4 versículo três mostra mais de um gênero literário, além, claro do lírico.

relatório e o litúrgico 

são apresentados números da violência e exclusão social

"60% dos jovens de periferia
Sem antecedentes criminais
Já sofreram violência policial
A cada quatro pessoas mortas pela policia, três são negras
Nas universidades brasileiras
Apenas 2% dos alunos são negros
A cada quatro horas um jovem negro morre violentamente em São Paulo (...)"

há momentos em que a letra se liga a discurso religioso

"E ah profecia se fez como previsto
(1997) depois de Cristo a fúria negra ressuscita outra vez
Racionais, capitulo quatro versículo três

(...)
Irmão o demônio fode tudo ao seu redor
Pelo radio, jornal, revista e outdoor
Te oferece dinheiro, conversa com calma
Contamina seu caráter, rouba sua alma 
(...)"


existe o desabafo, existem pequenas narrativas sobre vida na periferia

arranjo da música é pontuado por uma voz feminina que canta a palavra “aleluia” no refrão, trecho extraído da canção “pearls”, gravada pela britânica sade e termina com o som de um sino de igreja

é a raiva diante das diferenças de classe e o racismo

saiba mais - - clica




letra e música  - -
capítulo 4 versículo 3



segunda-feira, 20 de abril de 2020

entre a educação e a barbárie



sim, abril de 2020, dia 20.

mais um dia de quarentena.

já começou uma movimentação pelo retorno do comércio e outras atividades, pelas cidades. tomara que não vingue, neste mês, pelo menos. 

houve manifestação, em s paulo, neste fim de semana, pregando que vírus covid-19 é fraude, uma invenção. 

as mortes, segundo as gentes, são causadas por h1n1. terrível. difícil pedir coerência a quem é ignorante e quer continuar na treva.


a ciência tem exposto à exaustão hospitais sem leito, covas anônimas, choro, solidão, horror. mas há quem faça manifestação pelo retorno às ruas. 

são ambiciosas,  dinheiristas, incapazes de compreender o que vai adiante do nariz. 
como é claro de onde vem a indicação da quarentena, a insensatez ataca cientistas, meios de informação e até o governador igualmente de direita por causa do isolamento que se prolonga. 

para azar dessa gente, o governo federal brasileiro é também de extrema direita e, com medo do impeachment, ainda sustenta discurso sobre importância do isolamento. a pessoa anti-ciência fica encurralada e, obrigada a pensar, surta, sai à rua, grita. 


e olhe que a aposta na demissão de mandetta (dem) era balão de ensaio para a popularidade da presidência, surtiu efeito nenhum na maioria da população: ninguém aplaudiu a façanha de demitir quem lutava pela saúde. 


estamos entre a educação de nossa gente e a barbárie dos insensatos.


educadores, humanistas, adultos com gosto por viver, devem sim continuar divulgando trabalhos dos cientistas, pregando coerência, respeito à coletividade, bom senso, verdade. 


hoje, constituição, ciência e pequena parcela da imprensa são a favor da humanidade e pedem que se fique em casa.


é a única saída.

sábado, 18 de abril de 2020

leituras brasileiras: a lista



adoro listas. por isso, encaro esta que é também sugestão para você que me lê.

leituras brasileiras desde o século 17.

de modo pretensioso, fiz lista de leituras que considero imprescindíveis.
a ordem é minha: quem é mais legal ocupa as vinte primeiras posições.


se discordar, está livre para fazer a sua.

aí vai:


1 - Grande sertão:veredas - G Rosa
2 - Dom Casmurro - Machado
3 - Lavoura arcaica - Raduan
4 - A paixão segundo GH - Clarice
5 - Morte e Vida Severina - Cabral
6 - Mem Póstumas de B Cubas - Machado
7 - Macunaíma - Mário
8 - São Bernardo - Graciliano
9 - Triste fim de P Quaresma - L Barreto
10 - Viva a Vaia - Augusto de Campos
11 - Nove noites - Bernardo Carvalho
12 - Poesia completa - Faustino
13 - Livro sobre nada - Manoel de Barros
14 - Noite na taverna - Azevedo
15 - Sagarana - Rosa
16 - Dois irmãos - M Hatoum
17 - Quarto de despejo - Carolina
18 - Três mulheres de três PPPês - Paulo Emílio
19 - Libertinagem - Bandeira
20 - O homem que sabia javanês - L Barreto
21 - Claro enigma - Drummond
22 - Fogo morto - J Lins
23 - O Ateneu - Pompeia
24 - Navio Negreiro - Castro
25 - Poesia completa - Gregório
26 - Vidas secas - Graciliano
27 - Quarup - Callado
28 - Iracema - Alencar
29 - Budapeste - Chico
30 - O noviço - Pena
31 - Missa do Galo - Machado
32 - Um certo cap Rodrigo - Veríssimo
33 - Vestido de Noiva - Nelson
34 - Capitães da areia - Amado
35 - O quinze - Rachel
36 - A orelha de Van Gogh - Scliar 37 - Ai de ti, Copacabana - Braga 38 - O matador - Patríca Melo 39 - Morangos mofados - Caio 40 - O caderno rosa de Lori Lamby - Hilda H 41 - Romanceiro da Inconfidência - Cecília 42 - Bagagem - Prado 43 - Poemas Sonetos Baladas - Vinícius 44 - Felicidade - Gianetti 45 - Negrinha - Lobato 46 - Brás Bexiga e Barra Funda - Alcântara 47 - Raposa - Carneiro 48 - Marília de Dirceu - Gonzaga 49 - A grande arte - Rubem 50 - I-Juca Pirama - Gonçalves

terça-feira, 14 de abril de 2020

ficar em casa garante futuro





negação da ciência, crença em vírus comunista, crença na demência que nega a quarentena... sim, sim, estamos em abril de 2020 e há pessoas (parecem gente, pelo menos) que pregam volta ao trabalho pelo simples fato de que sem ele há menos lucro, menos caixa dois, menos submissão. 
já escrevi aqui, recentemente, que ficar em casa é ato contra burrice mais do que contra vírus. pior para a sandice que prega fim da quarentena, pois quem fica em casa conversa, mesmo que pouco, mas conversa. quem fica em casa ouve. quem fica casa presta atenção no que está em torno. 
essa gente que minimamente pensa já é uma tempestade contra quem prega fim da quarentena supostamente pelo bem da economia.
se ficarmos em casa, menos infecções. se ficarmos em casa, menos mortes. melhor pra economia, num futuro breve. se voltarem aglomerações, mais mortes. essa gente que prega fim do isolamento sabe disso. tanto que faz manifestação de carro. a questão é não deixar o povo em casa porque eles, naturalmente, vão descobrir com quem está a verdade.

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vale a pena assistir, juro
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