O IMPOSSÍVEL CARINHO
Escuta, eu não
quero contar-te o meu desejo
Quero apenas
contar-te a minha ternura
Ah se em troca de
tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor
-
No coração
despedaçado
As mais puras
alegrias de tua infância!
Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu em 1886, Recife, dia 19 abril de 1886. Faleceu no Hospital Samaritano do Rio de
Janeiro, em outubro de 1968.
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Manuel Bandeira é poeta
que sabe estruturar seus temas. Seus temas são simples: recordações da
infância, um amor irrealizável, a sombra de uma doença grave, um enterro que
passa, uma linda tarde de despedidas, uma velha casa que vai abaixo e na qual
se sofreu e se amou muito.
Otto Maria Carpeaux
Manuel Bandeira chamou-se
um dia “poeta menor”. Fez por certo uma injustiça a si próprio, mas deu, com
essa notação crítica, mostras de reconhecer as origens psicológicas de sua arte
: aquela atitude intimista (...) um lirismo confidencial, auto-irônico, talvez
incapaz de empenhar-se num projeto histórico, (...). O esforço de romper com a
dicção entre parnasiana e simbolista de Cinza das Horas foi plenamente logrado
enquanto fez de Bandeira um dos melhores poetas do verso livre em português e,
a partir de Ritmo Dissoluto, talvez o mais feliz incorporador de motivos e
termos prosaicos à literatura brasileira.
Alfredo
Bosi
De
qualquer maneira, sabe-se que a poesia de Manuel Bandeira é de um lirismo
bondoso. Mário de Andrade o chamou de São João Batista do Modernismo. Aquele do
batismo. Que coisa. Devoto de simplicidade que extasia, o poeta brinca com a
vida através de seu passado, através da forma quase coloquial de escrita em
versos, com um sensualismo nada ingênuo e musicalidade. Com ironia e concisão.
Predomínio do verso livre. A literatura de Manuel Bandeira é repleta de outras
referências modernas; e temos nela um dos quatro pontos de sustentação da
poesia brasileira do século XX, junto com Jorge de Lima, Carlos Drummond e mais
alguém que bem poderia ser a Cecília Meireles, mas sei que não é.
Carlos H.
Carneiro