segunda-feira, 30 de outubro de 2017

joão cabral de melo neto - o urubu mobilizado



hoje, a ideia é discutir com seus alunos(as) um texto do modernista joão cabral de melo neto. segundo a crítica literária, pertnce ao terceiro tempo modernista, décadas de 1950 e 60, junto com clarice e guimarães rosa, dentre outros.

joão foi um regionalista, porém, elevou a discussão sobre diferença de classe, nos sertões do nordeste, a um patamar mais universal, tratando do homem e a questão da existencia


    O urubu mobilizado

Durante as secas do Sertão, o urubu 
de urubu livre, passa a funcionário.
O urubu não retira, pois prevendo cedo 
que lhe mobilizarão a técnica e o tacto, 
cala os serviços prestados e diplomas,
que o enquadrariam num melhor salário,
e vai acolitar os empreiteiros da seca,
veterano, mas ainda com zelos de novato:
aviando com eutanásia o morto incerto,
ele, que no civil que o morto claro. 

                                 2
Embora mobilizado, nesse urubu em ação 
reponta logo o perfeito profissional.
No ar compenetrado, curvo e conselheiro,
no todo de guarda-chuva, na unção clerical,
Com que age, embora em posto subalterno:
ele, um convicto profissional liberal.

MELO NETO, João Cabral de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Ed Nova Aguilar

nota
acolitar ; prestar serviço; ajuda


pergunte a seus alunos o que se entende por "indústria da seca", no século 20.
o que seriam esses diplomas do urubu?
em que medida este texto se aproxima do que se lê em "vidas secas", de graciliano?


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professor(a),  
a ideia, aqui no blog, nesta série, não é ser definitivo, com algo muito extenso, em cada post... mas sim deixar material suficiente para uns 50 ou 40 minutos


algo para, de repente, um exercício, depois do seu debate, uma avaliação, uma tarefa de casa... use este material como lhe convier!

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

pucc - redação - vestibular 2018 - desigualdade social




a pontifícia universidade católica de campinas, puccamp, neste 21 de outubro, propôs a(os) vestibulandos(as) duas propostas: uma, tratando da desigualdade social, trazia um texto relativamente longo, artigo de oscar vilhena, para "folha de s paulo, setembro de 2017, do qual destaco esses trechos:

"A desigualdade não é um acidente na história de uma sociedade, mas sim fruto de deliberadas escolhas políticas e institucionais que favorecem a concentração de renda, bens e benefícios públicos. A situação crítica de muitas regiões brasileiras deveria deixar claro que, quando a desigualdade é profunda e persistente, ela compromete fortemente o devido funcionamento das instituições e a própria coesão social. Apesar dos esforços de distribuição de riqueza por intermédio do acesso à educação, saúde, saneamento básico e mesmo assistência social, articulados pela Constituição de 1988, o Brasil não se tornou um país mais justo nas últimas décadas. (...) Os indicadores sociais apontam para uma relativa melhoria das condições de vida dos mais pobres propiciada pela estratégia social democrata adotada em 1988, mas mesmo a redução da pobreza não redundou numa significativa redução da desigualdade. (...)
O problema é que esse padrão de abissal desigualdade institucionalmente entrincheirado corrói o tecido social e perverte o modo como as instituições republicanas funcionam. De um lado a desigualdade inibe a construção de relações de reciprocidade, dificultando que as pessoas vejam a si, e aos demais, como merecedores de igual respeito e consideração. A exclusão e os privilégios, e não verdadeiros direitos, passam a determinar as relações sociais.(...) De outro lado, o enorme desequilíbrio de poder dentro da sociedade, decorrente da extrema desigualdade, também impacta de outro modo: setores influentes da sociedade extraem benefícios inaceitáveis do poder público, enquanto os mais pobres, especialmente quando vistos como ameaça, recebem das instituições tratamento inversamente proporcional: a regra é o descaso, o arbítrio, a violência. O resultado de tudo isso é uma imensa e crescente desconfiança nas instituições. A saída dessa crise mais profunda, gerada pela naturalização da desigualdade, dependerá da construção de um novo projeto de nação."

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o pedido da prova era um texto argumentativo.
coloquei aqui itens que o vestibulando poderia ter desenvolvido.

primeiro : criar sua tese (ideia sobre o tema)

tese possível : combater a desigualdade fortalecendo as instituições

argumento 1 : instituições como poder legislativo, executivo, judiciário, educação ou arte (cultura) quando sustentadas pela ética e voltadas ao bem comum produzem cidadãos que respeitam a democracia

argumento 2 : a educação é a principal instituição que pode fazer com que a desconfiança na sociedade civil diminua, pois valorizar o trabalho coletivo, a pesquisa e o conhecimento são base para harmonia e progresso.

conclusão : (reafirmar a tese) o fortalecimento das instituições pode combater a desigualdade social

tropicália - outubro de 1967 - 50 anos





o festival da canção, rede record, deu o prêmio de 1967 a "ponteio", de edu lobo. música que conseguia resvalar na crítica à ditadura militar e no regionalismo. obviamente, a canção de lobo é mais do que isso, mas nem se fosse mais e mais para chegar perto da revolução proposta por "alegria, alegria", um marco da tropicália. caetano veloso.

clica para saber mais sobre a tropicália

movimento que sofreu influência da "antropofagia" de 22 (a "semana de arte moderna"), uma vez que misturou baião, frevo, maracatu, samba, além de uma levada pop-rock com guitarras à moda estrangeira. tudo com arranjos surpreendentes que, vez por outra, expunham marcas acadêmicas da música clássica. não por acaso, rogério duprat fez parte da história da tropicália.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

o mundo de sofia - debates para sala de aula




"o mundo de sofia", gaarder, é um romance da década de 1990. ele pretende, através da história de uma menina de 14 anos, fazer um turismo por mais ou menos dois mil e quinhentos anos de pensamento filosófico, no ocidente. vendeu muito. virou best seller rápido. 
o livro não se pretende filosófico, mas sobre a filosofia. mostra, de modo quase didático, como era o pensamento de aristóteles, darwin, descartes, kant ou marx. 
o pecado mais marcante é ausência de nietzsche. mas sobre isso você fica sabendo nos assistindo.
isso: eu e henrique subi.

clica!


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

enem: mais dez dicas para estudar redação






prepare-se para a prova de redação, deste ano de 2017. 
lembre-se : o gênero tem sido o argumentativo.

use uma tese, uma afirmação contundente, logo na introdução, a respeito do tema dado.
depois, liste argumentos que defendam sua ideia.
a conclusão reafirma a tese. no caso específico do enem, todo vestibulando deve ainda propor uma saída humanista, humanitária, para o problema proposto.

por favor, evite clichês, do tipo "tudo na vida tem dois lados"; "no mundo em que vivemos"; "amazônia é pulmão do mundo"; "tudo é relativo"....etc....

saber mais? 
assista! dois vídeos!
boa prova!





quarta-feira, 4 de outubro de 2017

redação 2017 puc campinas - escola sem partido


                                                                     [ banksy ]

olhem, neste 2017, vestibular de inverno, a equipe da puc-campinas foi na jugular da sociedade civil e cobrou, em sua proposta de redação, o tema "escola sem partido". só de escrever essa expressão sinto muita raiva, desgosto. mas vamos lá. já adianto que está de parabéns a comissão organizadora deste vestibular.
copiei e colei aqui a proposta, na íntegra, incluindo a orientação.

Leia atentamente os textos abaixo.

 Texto I
 Nas escolas, públicas ou particulares, alunos e professores não devem se envolver em questões políticas, para que não confundam o que deve ser uma prática estrita da educação formal com o ativismo social. As ideologias dividem as pessoas, ao passo que os valores da ciência e da cultura são inquestionáveis em si mesmos.

 Texto II 
Nas escolas, públicas ou particulares, alunos e professores podem tomar as ideias e os fatos políticos para uma reflexão conjunta, na qual se preserve o direito à opinião e o hábito da discussão. As diferenças não devem ser silenciadas, mas trazidas a um debate para que ganhem forma e consistência no processo educacional. 


Redija uma DISSERTAÇÃO, na qual você avaliará as diferentes posições expostas nesses dois textos.

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para se fazer um texto argumentativo, basicamente são necessárias três partes:

1. tese (sua ideia a respeito do tema / proposta)
2. argumentos (situações / dados que sustentem sua ideia)
3. conclusão (reforçar a tese)

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obviamente, quem redige o texto 1, nada sabe sobre o termo "política". na medida que vivemos em grupo, fazemos política. criticar cerceamento de liberdade, escravidão, homofobia ou extermínio de judeus, na guerra, certamente irrita parte da sociedade brasileira que crê na subserviência e no silêncio das chamadas minorias, como negros, homossexuais, judeus etc etc.
impossível a qualquer cidadão com cérebro não comentar os desmandos do fascismo, do imperialismo britânico, a violência do colonizador, quando se está em sala de aula. óbvio: a função é justamente trazer à tona uma reflexão que promova uma rejeição à desumanidade.
deveria ser simples.
mesmo que muita gente acredite que por ser católica a universidade teria postura conservadora diante da juventude vestibulanda, a pontifícia universidade católica de campinas saiu na frente ao expôr o tema. e revela -- aproximando um texto de outro, quão abjeta é esta proposta que sai dos porões de um sentimento que ultrapassa a mera rotulação de "direita" ou "extrema direita". é proposta canalha de quem vê numa justiça enfraquecida pela força do dinheiro a chance de vir à tona, em sociedade, e obrar esses princípios que, por si só, se contradizem.



educação física ou competição esportiva?






muito comum, nas mentes de quem não é educador, ver brotar a teoria de que na escola deveriam surgir atletas. e de alto nível! recentemente, a olimpíada expôs, mais uma vez, a penúria em que vive nosso esporte. ele gera emprego, é ação social, faz parte da demanda civil de uma sociedade. deve ser sim mantido, gerido pelo estado. não se trata de pensamento "comunista" como muitas cabeças estúpidas (e o que não falta é estupidez, hoje) pensarão. basta ir a outros países. mesmo quando a iniciativa privada se intromete, o estado é tutor. há regras, compromissos, impostos.
enfim. está na moda a afirmação de que a escola deveria produzir atletas. vai vendo. primeiro: escola não é clube. segundo: escola instrui. acolhe. a competição não deve nortear o processo educativo. terceiro: educação física é só esporte?

para saber mais, veja-me!


segunda-feira, 2 de outubro de 2017

sonho de um sonho - aula carlos drummond de andrade





"claro enigma", 1951, é o livro mais sério da vasta carreira do poeta carlos drummond de andrade. poderia ter sido mais altiva se não publicasse tanto rascunho. enfim, ainda bem que há poetas melhores como gonçalves dias, joão cabral ou mário faustino, só pra ficar em três.
vamos a mais uma proposta de exercício para sua aula, professor, professora.
pensei em em dois textos com o nome "sonho de um sonho". segue um trecho do primeiro, dentro de "claro enigma":


SONHO DE UM SONHO​

​Sonhei que estava sonhando
e que no meu sonho havia
um outro sonho esculpido
Os três sonhos superpostos
Dir-se-ia apenas elos
de uma infindável cadeia
de mitos organizados
em derredor de um pobre eu
Eu, que mal de mim, sonhava!

Sonhava que no meu sonho
retinha uma zona lúcida
para concretar o fluido
como abstrair o maciço
Sonhava que estava alerta
e mais do que alerta, lúdico
e receptivo e magnético
(...)
e em torno de mim se dispunham
possibilidades claras 
(...)
Ai de mim! que mal sonhava
(...)
Sonhei que o sonho existia
não dentro, fora de nós
E era tocá-lo e colhê-lo
E sem demora sorvê-lo
(...)

neste trecho, existe a chance de se ter algum controle sobre o sonho. mas isso, como se vê, não passa de um sonho. mitos. se se tem controle sobre o sonho, ele deixa de ser sonho para ser pensamento? ação real?
bacana isso do jogo de palavras. meio cultista, eu sei.
já em 1980, a unidos de vila isabel, no rio de janeiro, resolveu compôr samba-enredo para o carnaval e usaram parte do texto do mineiro drummond. autoria é dada a martinho da vila, beto sem braço, aluísio machado e graúna. 
olhem "sonho de um sonho", 1980:

“Sonhei
Que estava sonhando um sonho sonhado
O sonho de um sonho
Magnetizado
As mentes abertas
Sem bicos calados
Juventude alerta
Os seres alados 
Sonho meu
Eu sonhava que sonhava 
Sonhei
Que eu era o rei que reinava como um ser comum
Era um por milhares, milhares por um
Como livres raios riscando os espaços
Transando o universo
Limpando os mormaços 

Ai de mim
Ai de mim que mal sonhava 

Na limpidez do espelho só vi coisas limpas
Como uma lua redonda brilhando nas grimpas
Um sorriso sem fúria, entre réu e juiz
A clemência e a ternura por amor da clausura
A prisão sem tortura, inocência feliz 
Ai meu Deus
Falso sonho que eu sonhava 
Ai de mim
Eu sonhei que não sonhava
Mas sonhei”

nota - "grimpas" - partes altas de alguma coisa; crista

o contexto do samba, claramente, é a ditadura militar. o sonho era o fim dos bicos calados, uma juventude alerta.a tristeza prevalece, ao fim, porque  se tem noção de que justiça e inocência feliz seriam apenas sonhos. "mas sonhei", reafirma o último verso. seria ele, o sonho, uma possibilidade? uma previsão? profecia? claro está, que naquele momento, 1980, difícil sair da situação de exceção em que vivia o país.



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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

aula - análise de texto - joão cabral de melo neto







O urubu mobilizado

Durante as secas do Sertão, o urubu 
de urubu livre, passa a funcionário.
O urubu não retira, pois prevendo cedo 
que lhe mobilizarão a técnica e o tacto, 
cala os serviços prestados e diplomas,
que o enquadrariam num melhor salário,
e vai acolitar os empreiteiros da seca,
veterano, mas ainda com zelos de novato:
aviando com eutanásia o morto incerto,
ele, que no civil que o morto claro. 

                                           2
Embora mobilizado, nesse urubu em ação 
reponta logo o perfeito profissional.
No ar compenetrado, curvo e conselheiro,
no todo de guarda-chuva, na unção clerical,
Com que age, embora em posto subalterno:
ele, um convicto profissional liberal.


MELO NETO, João Cabral de. Obra Completa. R de Janeiro: Nova Aguilar, 1994

joão cabral, o melhor dos poetas brasileiros, de longe. é do nordeste sua raiz e também graças à sua experiência diplomática na espanha, agregou em seu estilo um modo modernista tido como de caráter universal, mesmo quando se trata de um tema específico d brasil, como o nordeste.
as imagens que descrevem a ave carniceira são de uma crueldade doce. "guarda-chuva" ; "funcionário"; "curvo"; "conselheiro"; "clerical" . este último, aliás, remete ao termo "acolitar" em cujos significados mora o caráter religioso de uma ajuda, de um auxílio. 

professor(a) questione seus alunos sobre qual seria a função desse urubu. na primeira estrofe se diz que ele passa a "funcionário". mas de quem? 
o que significa "aviando com eutanásia" ?


compare a situação vivida no poema, pelas pessoas do sertão, com a vida de fabiano, em vidas secas. logo no início do livro, o pai pensa em deixar o menino mais novo no chão, porque ele estaria atrasando a viagem com sua fraqueza. ao olhar atentamente o lugar, fabiano vê ossos pelo chão. desiste de abandonar o filho.

com certeza, a leitura do poema aliada a estas questões tomarão o tempo de uma aula.

é comum a crítica literária colocar a obra de joão no terceiro tempo modernista, algo em torno da década de 1960.
é pouco. escritor regionalista, poeta cerebral, econômico nos adjetivos -- quando usa! -- joão traz influência de euclides da cunha e também de graciliano, em que pese este último seja seu contemporâneo.

bom trabalho!

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quarta-feira, 27 de setembro de 2017

minha gente - resumo conto sagarana




narrado em primeira pessoa, o personagem-narrador se vê envolvido em história de amor, política e até assassinato.

o livro "sagarana" contém nove (9) narrativas. são contos que, segundo a crítica, compõem a terceira fase do modernismo brasileiro.

saber mais ?

assista-me!



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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

aula : barroco e contrastes




                                                                        [ banksy ]

hoje, barroco :

o que é ?
segundo alfredo bosi, o estilo “enraizou-se com mais vigor e resistiu mais tempo nas esferas da Europa neolatina que sofreram impacto vitorioso de  novos tempos mercantis. é na estufa da nobreza e do clero espanhol, português e romano que se incuba a maneira barroco-jesuítica: (...) mundo  (...) organicamente preso à Contrarreforma e ao império filipino (...)”

         [história concisa da literatura brasileira, ed cultrix]

o estilo barroco ficou marcado, vulgarmente, pela ideia de contrastes. claro-escuro. teocentrismo versus antropocentrismo, mas é um tanto mais que isso.

continuando o barroco, aqui vai mais uma proposta de aula :

análise de texto com gregório de mattos e guerra, século 17:


Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca o Sol e o dia,
Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora
Quando vem passear-te pela fria,
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,

E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh, não aguardes, que a madura idade,
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.


maria parece ser uma figura à altura de um mito grego – adônis – e capaz de agregar em sua feição, a aurora, o sol etc.

contudo, algo pode pôr fim às virtudes da moça: o tempo. melhor é viver do que esperar.
questione seus alunos sobre o que seria aproveitar o tempo. o que é, afinal, aproveitar? 

sempre que começar um projeto, uma aula, sempre que começar seu dia, pergunte a si mesmo se a educação é o que gostaria de fazer se, de repente, o dinheiro não fosse um problema.
passada essa etapa, caso a resposta seja sim, vale a pena continuar perguntando se você é capaz de fazer seu aluno feliz.

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quinta-feira, 21 de setembro de 2017

aula - hoje ela só quer paz - e casemiro de abreu


                                                                             [ banksy ]

hoje ela só quer paz

ela é um filme de ação com vários finais
ela é política aplicada e conversas banais
se ela tiver muito afim seja perspicaz
ela nunca vai deixar claro
então entenda sinais
é o paraíso, suas curvas são cartões postais
não tem juízo, ou se já teve, hoje não tem mais
ela é o barco mais bolado que aportou no seu cais
as outras falam, falam, ela chega e faz
ela não cansa, não cansa, não cansa jamais
ela dança, dança, dança demais
ela já acreditou no amor, mas não sabe mais
ela é um disco do nirvana de 20 anos atrás
não quer cinco minutos no seu banco de trás
só quer um jeans rasgado e uns quarenta reais
ela é uma letra do caetano com flow do racionais
hoje pode até chover porque 
ela só quer paz
hoje ela só quer paz
noticias boas pra se ler nos jornais
amores reais, amizades leais
ela entende de flores, ama os animais
coisas simples pra ela, são as coisas principais
sem cantada, ela prefere os originais
conheceu caras legais, mas nunca sensacionais
ela não é a suas negas rapaz
pagar bebida é fácil, difícil apresentar pros pais
(...)
essa mina é uma daquelas fenomenais
vitamina, é proteína e sais minerais
ela é a vida, após a vida despedida
pros seus dias mais normais 

(...)
                                [ projota, 2016 ]

* "flow" se liga a ritmo; envolvimento; verso bem encaixado

hip hop de projota, lançado em 2016, dialoga tanto com a imagem do grafite (banksy, inglaterra), como com esse poema do casemiro de abreu, "amor e medo":

       Quando eu te fujo e me desvio, cauto        
        Da luz de fogo que te cerca, oh! bela,
        Contigo dizes, suspirando amores:
        “Meu Deus! que gelo, que frieza aquela
        Como te enganas! meu amor é chama
        Que alimenta no voraz segredo,
        E se te fujo é que te adoro louco...
        És bela -  eu moço; tens amor - eu medo!...
         Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
       Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes,
        Das folhas secas, do chorar das fontes,
        Das horas longas a correr velozes.
        ......................................................................

        Ai! se eu te visse, Madalena pura,
        Sobre o veludo reclinada a meio,
       Olhos cerrados na volúpia doce,
        Os braços frouxos - palpitante o seio!...
         Ai! se eu te visse em languidez sublime,
        Na face as rosas virginais do pejo.
        Trêmula a fala a protestar baixinho...
       Vermelha a boca, soluçando um beijo!...
         Diz: - que seria da pureza d’anjo,
        Das vestes alvas, do cantor das asas?
        -  Tu te queimaras, a pisar descalça,
        -  Criança louca, - sobre o chão de brasas!
         (...)
                                 [ casemiro de abreu, século 19 ]

quando o eu lírico diz, na letra do hip hop, "não é pra tuas negas não", claramente, foge do politicamente correto e, por tabela, de uma norma padrão. o verso diz mais ou menos que a garota em questão não se compara a outras que se envolveram com o eu lírico. a ideia, contudo, não é simplesmente jogar fora a letra toda por conta de um suposto deslize linguístico, mas valorizar também um jeito diferente de dizer algo que é marca da poesia de língua portuguesa: o lirismo de tom confessional. desde o trovadorismo é assim. tradição forte. eu ia escrever "dor de cotovelo", desisti. mostre a seus alunos que o texto de casemiro é de estilo romântico, usa da norma padrão mas atesta que há uma certa temerosidade na figura idealizada. "tenho medo de mim, de ti...". veja em projota, no hip hop: "ela é o barco mais bolado que já aportou no seu cais". há outros versos que também se equiparam aos de casemiro, mas a ideia, enfim, é lidar com a relação amorosa em que um é mais austero que outro. peça a seus alunos que reconheçam as semelhanças entre os dois textos. cá pra nós, projota é mais legal.

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segunda-feira, 18 de setembro de 2017

aula arcadismo no brasil




ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO - - SÉCULO 18

* contexto 

- iluminismo; revolução francesa; independência e.u.a.; conjura mineira
- o "bom selvagem" de rousseau
- racionalismo; valorização da ciência
- ascensão da burguesia

* para esta aula, pensei nos seguintes textos :

"O Arcadismo visava a substituir o empolamento seiscentista pela simplicidade estilística e pela imitação da Natureza.  Como os clássicos gregos e latinos já haviam bem imitado a Natureza, a imitação desta pelos árcades podia-se fazer indiretamente, pela imitação daqueles autores que haviam bem imitado a Natureza: Teócrito, Virgílio, Camões, Sá de Miranda, Rodrigues Lobo. (...)"                                                              Péricles E S Ramos

* poema de cláudio manuel da costa, séc 18

Se sou pobre pastor, se não governo
Reinos, 
nações, províncias, mundo, e gentes;
Se em frio, calma, e chuvas inclementes
Passo o verão, outono, estio, inverno;
Nem por isso trocara o abrigo terno
Desta choça, em que vivo, coas enchentes
Dessa grande fortuna: assaz presentes
Tenho as paixões desse tormento eterno.
Adorar as traições, amar o engano,
Ouvir dos lastimosos o gemido,
Passar aflito o dia, o mês, e o ano;
Seja embora prazer; que a meu ouvido
Soa melhor a voz do desengano,
Que da torpe lisonja o infame ruído


* repare que a valorização da natureza é tema de ambos os textos
* no poema de cláudio, o eu lírico não trocará a palhoça, o casebre em que vive, por nada
* figuras como newton, mozart, lavoisier, rosseau ou franklin trabalharam no plano terreno, no sentido da prática, da experiência com as intempéries e a busca de coerência em seus projetos; esse espírito racional influencia a poesia também, quando esta opta pela valorização da vida rústica o "carpe diem", o "fugere urbem"
* quem mora na cidade, segundo os tercetos, adora traições e enganos, além de passar aflito o tempo todo, ou seja, o campo é melhor para se viver
* a tela de j vien já registra o espírito burguês em franca ascensão: uma figura com elementos de influência clássica grega (à direita) diante de outra, joelhos ao chão, sinal de humildade. a figura sentada está pronta a pagar pelos símbolos do amor 

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acompanhe, toda semana, uma aula diferente, neste blog

@literaturapretensiosa
@carneiro_liter


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