49 crônicas - abril de 1888 a agosto de 1889
jornal "gazeta de notícias" rio de janeiro
em alguns textos é possível ler que um tal policarpo assina as crônicas -- é o personagem-cronista, assim como um relojeiro (como na primeira crônica)
para contextualizar:
as crônicas tratam do período de transição entre a monarquia e a república
IMPORTANTE
5 abril, 1888 - - primeira crônica
IMPORTANTE
5 abril, 1888 - - primeira crônica
[ trecho ]
Bons dias!
Hão de reconhecer que sou bem criado. Podia entrar aqui, chapéu à banda, e ir logo dizendo o que me parecesse; depois ia-me embora, para voltar na outra semana. Mas, não senhor; chego à porta, e o meu primeiro cuidado é dar-lhe os bons dias. Agora, se o leitor não me disser a mesma coisa, em resposta, é porque é um grande malcriado, (...) e que eu, explicando-me com tão nobre franqueza, não me refiro ao leitor, que está agora com este papel na mão, mas ao seu vizinho. Ora bem!
Feito esse cumprimento, que não é do estilo, mas é honesto, declaro que não apresento programa. Depois de um recente discurso proferido no Beethoven, acho perigoso que uma pessoa diga claramente o que é que vai fazer; o melhor é fazer calado. Nisto pareço-me com o príncipe (...) e faz lembrar um sujeito muito alto e louro, parecidíssimo com o Imperador, que há cerca de trinta anos ia a todas as festas da Capela Imperial, pour étonner de bourgeois; os fiéis levavam a olhar para um e para outro, e a compará-los, admirados, e ele teso, grave, movendo a cabeça à maneira de Sua Majestade. São gostos de Bismark. O príncipe de Bismark tem feito tudo sem programa público; a única orelha que o ouviu, foi a do finado Imperador, — e talvez só a direita, com ordem de o não repetir à esquerda. (...)
apresentação geral - - ocorre a metalinguagem, aqui:
Boas noites!
apresentação geral - - ocorre a metalinguagem, aqui:
cronista explica o que vai e o que não vai fazer, dentro da crônica
- falta um programa, um plano de trabalho para os textos
- receoso de discurso recente (f. viana), prefere não falar claramente
- ferreira viana antecipou a abolição, em discurso, no clube beethoven
- machado era sócio-bibliotecário, no clube
- pour etonner de bourgeois - - para surpreender os burgueses
- pour etonner de bourgeois - - para surpreender os burgueses
- compara-se a bismarck que age sem programa público
- cronista se diz um ex-relojoeiro: relógios do mundo não marcam a mesma hora
- partido liberal versus império: quem faria abolição seria mesmo o império
- dantas e saraiva - líderes do conselho - abolição sem indenização
- diz o cronista que ficará no jornal até a chegada do bendegó - - meteorito trazido do nordeste, em 1888, em processo demorado -- até hoje a grande pedra está no museu nacional, quinta da boa vista, mesmo depois do incêndio de 2018
4 de maio
[ trecho]
...Desculpem, se lhes não tiro o chapéu; estou muito constipado (...) Passo as noites de boca aberta. Creio até, que estou abatido e magro. Não? Estou; olhem como fungo. E não é de autoridade, note-se; ex auctoritate qua fungor, não, senhor; fungo sem a menor sombra de poder, fungo à toa...Entretanto, se alguma vez precisei de estar de perfeita saúde, é agora, por várias razões. Citarei duas:A primeira é a abertura das Câmaras. Realmente, deve ser solene. O discurso da princesa, o anúncio da lei de abolição, as outras reformas, se as há, tudo excita curiosidade geral, e naturalmente pede uma saúde de ferro. O meu plano era simples; metia-me na casaca, e ia para o Senado arranjar um lugar, donde visse a cerimônia, deputações, recepção, discurso. Infelizmente, não posso; o médico não quer, diz-me que, por esses tempos úmidos, é arriscado sair de casa; fico. (...)
Boas noites!
- ex auctoritate qua fungor - pela autoridade que exercito
- tem curiosidade de ver a abertura dos trabalhos nas câmaras
- interesse em entender a política do ceará / conversa com senador castro carreira
- os partidos seriam dois ou quatro: questiona os princípios desses partidos
- há dois grupos políticos: aquirás e ibiapabas
- fica sabendo que são dois princípios: boa educação e auxiliar a província
- senador fica cansado da conversa com o cronista
machado, ao longo de seus textos, acaba igualando feitos históricos nacionais e internacionais ao cotidiano do rio de janeiro, com seus bondes, animais de carga, gente comum, pobres, ricos. por isso, minimiza a importância de tudo, tratando os fatos com ironia ou alegorias, deixando claro o tom de superioridade dele próprio -- quem escreve -- sobre seus leitores, assim como da situação política.
machado, ao longo de seus textos, acaba igualando feitos históricos nacionais e internacionais ao cotidiano do rio de janeiro, com seus bondes, animais de carga, gente comum, pobres, ricos. por isso, minimiza a importância de tudo, tratando os fatos com ironia ou alegorias, deixando claro o tom de superioridade dele próprio -- quem escreve -- sobre seus leitores, assim como da situação política.
cronista compara o episódio da entrevista com político do ceará ao enredo de uma peça de alfred mussett, ou seja, desdenha da ação civil, borrifa sarcasmo sobre o republicano
MUITO IMPORTANTE : machado era sim monarquista
11 de maio
[ trecho ]
- cronista admite que escravatura traz miséria mas faz ressalva e afirma que ficou em dúvida sobre qual postura apoiar: abolição ou "princípo de propriedade" -- ou seja, cronista expõe dúvidas sobre processo de liberdade para escravizados
Vejam os leitores a diferença que há entre um homem de olho aberto, profundo, sagaz, (...) (eu em suma), e o resto da população.
Toda a gente contempla a procissão na rua, as bandas e bandeiras, o alvoroço, o tumulto, e aplaude ou
censura, (...) mas ninguém dá a razão desta cousa ou daquela cousa;
ninguém arrancou aos fatos uma significação, e, depois, uma opinião. (...) me custava a achar uma opinião. (...) Não foi o ato das alforrias em massa dos últimos dias essas alforrias incondicionais, que vêm cair como
estrelas no meio da discussão da lei da abolição. (...) Lá que eu gosto liberdade, é certo; mas o princípio da propriedade não é menos
legítimo. Qual deles escolheria? (...) Não quis saber mais nada; desde que os interessados rompiam assim a solidariedade do direito comum, é
que a questão passava a ser de simples luta pela vida, e eu, em todas as lutas, estou sempre do lado do
vencedor. Não digo que este procedimento seja original, mas é lucrativo. Alguns não me compreenderam
(porque há muito burro neste mundo); alguém chegou a dizer-me que aqueles fazendeiros fizeram aquilo,
não porque não vissem que trabalhavam contra a própria causa, mas para pegar uma peça ao Clapp (...)
- cronista admite que escravatura traz miséria mas faz ressalva e afirma que ficou em dúvida sobre qual postura apoiar: abolição ou "princípo de propriedade" -- ou seja, cronista expõe dúvidas sobre processo de liberdade para escravizados
- clapp - joão fernandes clapp presidente da confederação abolicionista -- segundo consta é uma história improvável, ele teria levado escravos fugidos de volta a seus donos ... parece mesmo uma pós-verdade do cronista
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"(...) O capitalismo iria provocar importantes e curiosas medidas para garantir a
integridade nacional. Buscando tecnologia e mão de obra qualificada, Alfredo
d’Escragnolle, o Visc de Taunay, apresentou ao Senado um projeto de nacionalização, no qual consta que “todo estrangeiro que tiver residência efetiva no
Brasil, por espaço de dois anos, será considerado cidadão brasileiro” . Esse incentivo
à imigração em larga escala foi comentado por Machado de Assis na crônica de 28 de
outubro de 1888. O projeto de renacionalização, como chamamos, conta com a ajuda
de várias áreas de conhecimento que estavam unidas desde o começo do século XIX
a fim de garantir a integridade nacional, como a História, a Geografia, a Literatura e
o jornalismo, que se encontrava em ascensão (...)."
- "bons dias! no avesso da república" - - marta pinheiro
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crônica 6 setembro 1888
"Não é pelo gosto de imitar o Fradique Mendes que uso tomar nota de algumas frases parlamentares (...)"
- eça de queiroz criou personagem em "a correspondência de fradique mendes" que possuía o hábito de ler o "diário das câmaras": quando encontrava alguma frase maluca, ridícula, sublinhava em vermelho. formou ele o "livro de ouro da sandice parlamentar"
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