já escrevi mais sobre essa questão da escola na vida da comunidade em que está inserida. clique abaixo, me diz o que acha.
importância da escola - clica
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CANÇÃO DE EXÍLIO
José Paulo Paes [1926 - 98]
Um dia segui viagem
sem olhar sobre o meu ombro.
Não vi terras de passagem
Não vi glórias nem escombros.
Guardei no fundo da mala
um raminho de alecrim.
Apaguei a luz da sala
que ainda brilhava por mim.
Fechei a porta da rua
a chave joguei no mar.
Andei tanto nesta rua
que já não sei mais voltar.
[in "prosas seguidas de odes mínimas", cia das letras]
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poema paródia do adocidado "canção do exílio", gonçalves dias, 1843.
aqui, século 20, ao contrário das boas expectativas no citado poema romântico, temos dose de pessimismo.
texto de caráter narrativo, revela que o poeta não viu, no passado, nem "glória" nem "escombro", ou seja, nada de ruim ou bom.
no fundo da mala, ou seja, dentro de si, vai um ramo de alecrim. na tradição europeia, era chamado de "rosmarino" -- flor do mar, para os romanos. aqui pelo país, é costume crer que o alecrim afasta inveja ou pesadelo. veja, mesmo não enxergando nada de ruim, no passado, melhor prevenir e botar alecrim na mala. é o medo. insegurança.
o eu lírico fecha a casa, joga a chave no mar, ou seja, busca distanciar-se de suas origens, de seus possíveis problemas, quer mudar de vida. a expectativa sobre o que esse eu lírico faz depois de tudo é quebrada, porque, no final, se descobre que talvez ele tenha se arrependido e só não volta porque se perdeu. outra leitura possível para esse desfecho você mesmo pode criar. é divertido. é literatura.
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saiba mais sobre josé paulo:
dentro desse mundo repleto de barbárie, há de se começar por algum lugar e, como trabalho em escolas, achei que poderia compartilhar o que pretendo fazer ano que vem com meus estudantes, todos do ensino médio. de repente ajuda, no mínimo, a combater essa enxurrada de violência, ódio e racismo. quiçá, mudar o mundo pra melhor, de uma vez.
1. "a vida não é útil" (krenak)
sugestão: 9o (fund2) e ensino médio
-- cuidar do planeta
-- relação do humano com a tecnologia
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2. "olhos d'água" (conceição evaristo)
sugestão: ensino médio
- - pelo menos dois contos: o primeiro e mais um
-- debate sobre racismo estrutural; amor; passado da negritude
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3. "pequeno manual antirracista" (djamila)
-- racismo institucional e estrutural
sugestão: ensino médio, 8o. e 9o. anos
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4. "campo geral" (g rosa)
sugestão: ensino médio
-- família o que é; infância; ética; busca de felicidade
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5. "o conto da ilha desconhecida" (saramago)
sugestão: ensino médio
-- busca de felicidade; rei versus povo; sonhar; coletividade; viajar
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6. "ideias para adiar o fim do mundo", krenak
sugestão: 9o. ano e ensino médio
-- ambiente; futuro; comunidades indígenas; tecnologia
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7. "o visconde partido ao meio" (calvino)
sugestão: 9o ano e 1a. série ensino médio
-- maniqueísmo; bem e mal; preconceito; democracia
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8. "cartola - dez sambas" (agenor de oliveira / música)
-- lirismo na literatura, desde idade média; questão social; identidade
sugestão: 8o. e 9o. anos; ensino médio
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as leituras precisam ser compartilhadas com pelo menos mais um educador, educadora... ideal era que toda classe docente, em algum momento do ano, tratasse de um tema -- pelo menos -- dentro da leitura escolhida; mesmo no caso das chamadas "exatas" é possível ter um instante pra discutir, por exemplo, como a ciência, pode colaborar para acabar com racismo, preservar mais a natureza etc. olhem, em "conto da ilha..." o tema é a busca de um lugar novo que muito bem pode estar dentro de cada um... navegar é preciso, diz um ditado luso... por isso, unir música, história e física pode tornar a leitura de saramago (item 5) algo surpreendente. é possível sim, juntar as áreas de matemática, arte e língua portuguesa para discutir economia, poluição, mundo digital, espírito colaborativo, reciclagem... ideia não falta.
olhe, se você acha que não dá pra salvar o mundo todo agora, a gente pode tentar salvar uma pessoa de cada vez, mês a mês, ano a ano.
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fernanda magnota deu a letra e publicou texto de respeito: por um brasil que não trate política como entretenimento.
[ jade picon e a sandália com temática afro ]
coloquei, aqui, dois textos como uma coletânea para você, estudante, se basear e desenvolver uma redação argumentativa: pode ser artigo de opinião, crônica argumentativa ou a clássica redação modo-enem, modo-fuvest etc.
os textos são estes abaixo, basta clicar, ler e voltar aqui
jade e acm neto - privilégios da branquitude
comunidade preta reage a jade picon
o que é importante desenvolver se encontrar proposta que exiga uma argumentação e ainda peça soluções para questão do racismo.
primeiro: diferença entre racismo estrutural e institucional.
- racismo estrutural: sociedade cresceu baseada na ideia de que o negro é inferior ao branco (também vale para comunidades indígenas)
- racismo institucional: prática de segregação feita por instituições que se sustentaram no racismo estrutural; por exemplo: empresas que simplesmente não contratam negros; publicidade de produtos apenas com modelos brancos etc
vamos à redação argumentativa
1. crie uma tese, sua, a respeito; por exemplo:
- racismo institucional se combate na escola e na infância -
2. argumentos que defendam a tese
(usei tópicos pra ficar objetivo / desenvolva parágrafo para cada item)
- com estudantes, promover podcast sobre o tema; mostra cultural contendo o assunto "negritude" e "raízes" da identidade brasileira
- documentário "amarelo", de emicida (toda escola)
- manual antirracista de djamila (qualquer idade) - livro
- niketche, paulina (ensino médio) - livro
- black power de akin, kiusam (fundamental 2) - livro
estes itens acima, quando desenvolver seu texto, devem reforçar a ideia de que através do debate, na escola, aumenta-se a chance do indívíduo crescer com clareza a respeito das diferenças sociais, étnicas, no país.
lembrar que no modo enem, antes da conclusão é preciso apresentar proposta de solução para o que foi dado no tema.
sendo assim, reforce a necessidade de um chamamento de toda a comunidade (família, vizinhança etc) para dentro da escola, durante atividades a respeito do racismo.
3. conclusão: reforço da tese, ou seja, através da educação e a vivência de toda a comunidade junto à escola, será possível minimizar e acabar com racismo estrutural e, consequentemente, o institucional
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saiba mais -- veja estes vídeos
ENCOMENDA
Cecília Meireles [1901-64]
Desejo uma fotografia
como esta — o senhor vê? — como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.
Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.
Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.
[ Vaga Música, 1942 ]
poema sobre passagem de tempo e a possibilidade de assumir a solidão. assumir ou constatar, simplesmente. eis aí uma doença que aflige dez entre dez pessoas sensíveis. sempre.
o eu do texto quer -- na fotografia -- imagem que seja alegre; quer uma foto como a que está mostrando ao fotógrafo: nela, há alegria.
com rimas de uma sonoridade ímpar, "encomenda" traz influência do simbolismo, à medida que o lirismo é a sua maior caracterítica, ou seja, a expressão em primeira pessoa, a exposição de emoção, aqui, sem exageros. pois se houvesse, seria romântico. a primeira estrofe beira a singeleza e o clichê. depois, vem o clima sombrio, a constatação de uma ausência. repare: versos de oito sílabas poéticas, octassílabos: raridade.
o eu lírico dispensa lugares comuns na fotografia, como cenários artificiais ou fantasia aleatória. o que se quer é imagem que expõe o invisível através da cadeira. sobra, ao final, a saudade, representada por essa cadeira vazia. pode ser a saudade de alguém distante ou -- como já se disse -- a constatação da solidão do próprio eu lírico. ia escrever "constatação da depressão", mas desisti.
milly lacombe, mais uma vez, deixando claro o mundo atual:
"Vera Magalhães virou alvo da violência Bolsonarista. Não são lobos solitários que investem contra o corpo e a dignidade da jornalista. São agentes bem orientados por um tipo de lógica de morte que há mais de quatro anos controla esse país em todos os níveis. O Bolsonarismo precisa da violência de gênero como um vampiro precisa de sangue. Esse é um dos pilares que estruturam a sociedade que bolsonaristas querem erguer (...) Nesse projeto de sociedade, florestas viram pó, corrupção está liberada (chamam rachadinha que é para não assustar), pessoas negras não apitam muito, LGBTQs podem morrer porque não fazem falta. Nessa sociedade, a lógica é miliciana do começo ao fim. Vera Magalhães foi escolhida por essa turma covarde para virar, literal e simbolicamente, o rosto do inimigo (...)" [ portal UOL ]
clique para ler o texto todo de milly
[ legião urbana, brasília, década 1980 ]
MAIS UMA VEZ
[ Renato Russo ]
carlos henrique carneiro, nascido em ribeirão preto, sp
- formação: letras, universidade estadual de campinas, 1984 a 88
[ aos 17 anos, é personagem de "deus me livre", puntel, ed ática ]
inciou profissionalmente no colégio graphos, 1986, nas cidades de são josé do rio pardo, mococa, itapira e esp. s. pinhal, todas no estado de são paulo. professor de literatura e redação. trabalhou na rede objetivo, em campinas, mogi-mirim, mogi-gauçu e bragança paulista, tudo isso entre 1986 e 95.
por quase vinte anos, trabalhou no colégio visconde de porto seguro -- 1992 a 2010 (coordenador e professor), em valinhos.
é professor de literatura e história da arte, no curso alethus, rede poliedro, valinhos.
mora em campinas, desde 1984.
escritor: "poeta em construção", 1982; "raposa", 2004; "camões em perigo", 2015; "determinada mandioca", 2013; "literatura não autorizada", 2014; "abolição via vargas", 2021 ; "atlântida" (monólogo - não publicado), 1998 e artigos sobre literatura no ensino médio, resenhas de obras literárias e afins, nesses últimos trinta anos.
1989: publica artigos aos sábados no jornal "diário do povo", campinas.
1998: junho, dia 21 -- com manuela soares --, monólogo "atlântida", escreveu e dirigiu. campinas, sp. apoio editora costa-flosi. assessoria de marcelo campos.
Chora, disfarça e chora
Aproveita a voz do lamento
Que já vem a aurora
A pessoa que tanto querias
Antes mesmo de raiar o dia
Deixou o ensaio por outra
Ó triste senhora
Disfarça e chora
Todo o pranto tem hora
E eu vejo seu pranto cair
No momento mais certo
Olhar, gostar só de longe
Não faz ninguém chegar perto
E o seu pranto, ó triste senhora
Vai molhar o deserto
Chora, disfarça e chora
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samba critica com algum escárnio o amor platônico de uma senhora por alguém. este objeto do desejo acaba indo para outra pessoa. "deixar o ensaio" pode significar metaforicamente, ensaio de escola de samba, ou seja, o sambista mudou de escola antes do carnaval; ou então: seu amor se foi antes da realização amorosa desejada... o que gerou choro. repare a figura de linguagem hipérbole: lágrimas vão molhar o deserto. é demais.
a letra dá uma lição à senhora triste: "gostar de longe" não resolve.
cartola foi um dos fundadores da escola de samba estação primeira de mangueira. o apelido "cartola", veio dos tempos em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu.
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