domingo, 2 de outubro de 2022

luta contra barbárie continua!

 


sensacionalismo em parte da imprensa; o racismo institucional e instalações pelo país ligadas a pseudo-religiosos -- somem-se aí canais de tv que vendem reza -- colaboraram sim para expressiva votação de jair, neste primeiro turno, 2022. o atual presidente teve 43% dos votos contra 48% de lula.
olhem, figuras conservadoras e distantes de questões -- por exemplo -- ambientais, como ronaldo caiado (mato grosso), castro (rio de janeiro) ou ratinho júnior (paraná) dão o tom de como a influência dessas insituições (uma boa parte da imprensa; pseudo igrejas) atrapalha desenvolvimento de questões substantivas como natureza, fome, desemprego, democracia, ciência, arte, não-violência etc... acrescente-se a enxurrada de mentiras sobre humanidade, desde terra plana, cloroquina contra covid, comunismo no brasil e outras bizarrices nessa linha. barbárie. são as fake news a todo vapor. 
é assustador que mesmo depois das mais de 600 mil mortes na pandemia, crise dos combustíveis, as "rachadinhas" e discurso de ódio de políticos como jair não fizeram o brasileiro médio se render à realidade... e acabaram elegendo, hoje, o pazzuello, a damares, zema, o astroanauta, o eduardo bolsonaro, mourão, além de outros tantos conservadores e vendilhões para cargos no senado, congresso e governo. estarrecedor. 
volto a insistir: escolas têm chance de manter viva ideia de humanidade.
como: debatendo questões sociais, em sala de aula, desde voluntariado, horta comunitária, transporte público, poluição, orientação sexual (sim!) e acesso a informação decente ou acesso decente a informação. debatendo política nacional, lógico! também discutir respeito às diferenças; racismo; mais leitura. é a civilização com alguma chance. 

 . . . . . .  .  .  .  .   .   .   .



sábado, 1 de outubro de 2022

política não é entretenimento

                               

fernanda magnota deu a letra e publicou texto de respeito: por um brasil que não trate política como entretenimento.

coloco aqui um trecho : 
"Chegamos às vésperas da eleição presidencial no Brasil, todos de ressaca, exaustos pela exposição à tanta baixaria. (...) A culpa disso é de todos aqueles que estimulam os próprios líderes a se comportarem como apresentadores de programa de auditório. Presidente não é feito para 'mitar', é feito para conceber, negociar e implementar políticas públicas que beneficiem o interesse coletivo.(...)"
                      F. Magnotta, setembro 2022

 texto está no site uol.
política não é entretenimento - fernanda [clica]
. . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   .
olhem, brasileiro, em geral, encara política com negligência, com descaso. um tanto da culpa é a postura de muitos políticos que, quando candidatos, se mostram midiáticos, palhaços, verborrágicos. não dá. mas o brasieiro já votou na xuxa (sem que fosse candidata), já votou no cacareco (rinoceronte), no tiririca, bolsonaro, pastores em geral e uma infinidade de outras figuras desprezíveis, que mereciam distância do poder público. muitos eleitores fazem isso por pura farra ou falta de estudo mesmo; e são incentivados por parcela da política que procura capturar justamente esses eleitores iletrados.
escolas brasileiras perdem excelente oportunidade de começar a resolver o problema quando fingem que nada acontece para além dos muros da sala de aula. uma pena. as públicas levam ligeira vantagem sobre as privadas, via de regra, porque podem trabalhar sobre projetos, já as privadas estão assentadas em conteúdos teóricos. em geral, estudantes saem das escolas  sabendo o que é barroco, as leis de newton, a fotossíntese e a economia na roma antiga... mas depois, elegem políticos anti-povo; elegem políticos que desmatam amazônia, que se vangloriam da corrupção. é quase um meme. é o caos.
simular eleição, explicar como funciona o congresso, mostrar do que o país necessita e qual seu papel na onu, por exemplo, são ações tão básicas quanto existência de bebedouro no corredor ou banheiro no fim dele. tratar de temas da política local, do bairro onde a escola se insere também deveriam nortear os princípios da boa educação. 
passou da hora das escolas tratarem de questões substantivas assim como tratam da vida no egito antigo ou como se forma a palavra sambódromo.



quinta-feira, 29 de setembro de 2022

negritude e jade picon - tema de redação

 

                       [ jade picon e a sandália com temática afro ]

coloquei, aqui, dois textos como uma coletânea para você, estudante, se basear e desenvolver uma redação argumentativa: pode ser artigo de opinião, crônica argumentativa ou a clássica redação modo-enem, modo-fuvest etc.

os textos são estes abaixo, basta clicar, ler e voltar aqui

jade e acm neto - privilégios da branquitude

comunidade preta reage a jade picon

o que é importante desenvolver se encontrar proposta que exiga uma argumentação e ainda peça soluções para questão do racismo.

primeiro: diferença entre racismo estrutural e institucional.

- racismo estrutural: sociedade cresceu baseada na ideia de que o negro é inferior ao branco (também vale para comunidades indígenas)

- racismo institucional: prática de segregação feita por instituições que se sustentaram no racismo estrutural; por exemplo: empresas que simplesmente não contratam negros; publicidade de produtos apenas com modelos brancos etc

vamos à redação argumentativa
1. crie uma tese, sua, a respeito; por exemplo:

- racismo institucional se combate na escola e na infância -

2. argumentos que defendam a tese 

(usei tópicos pra ficar objetivo / desenvolva parágrafo para cada item)

 com estudantes, promover podcast sobre o tema; mostra cultural contendo o assunto "negritude" e "raízes" da identidade brasileira

- documentário "amarelo", de emicida (toda escola)

- manual antirracista de djamila (qualquer idade) -  livro

- niketche, paulina (ensino médio)  -  livro

- black power de akin, kiusam (fundamental 2) - livro

estes itens acima, quando desenvolver seu texto, devem reforçar a ideia de que através do debate, na escola, aumenta-se a chance do indívíduo crescer com clareza a respeito das diferenças sociais, étnicas, no país.

lembrar que no modo enem, antes da conclusão é preciso apresentar proposta de solução para o que foi dado no tema.
sendo assim, reforce a necessidade de um chamamento de toda a comunidade (família, vizinhança etc) para dentro da escola, durante atividades a respeito do racismo.

3. conclusão: reforço da tese, ou seja, através da educação e a vivência de toda a comunidade junto à escola, será possível minimizar e acabar com racismo estrutural e, consequentemente, o institucional

. . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   .    .

saiba mais -- veja estes vídeos 





quinta-feira, 22 de setembro de 2022

encomenda - cecília meireles - comentário

 

           ENCOMENDA
                       Cecília Meireles [1901-64]

  Desejo uma fotografia
  como esta — o senhor vê? — como esta:
  em que para sempre me ria
  como um vestido de eterna festa.

  Como tenho a testa sombria,
  derrame luz na minha testa.
  Deixe esta ruga, que me empresta
  um certo ar de sabedoria.

  Não meta fundos de floresta
  nem de arbitrária fantasia...
  Não... Neste espaço que ainda resta,
  ponha uma cadeira vazia.
                       [ Vaga Música, 1942 ]

poema sobre passagem de tempo e a possibilidade de assumir a solidão. assumir ou constatar, simplesmente. eis aí uma doença que aflige dez entre dez pessoas sensíveis. sempre.
o eu do texto quer -- na fotografia --  imagem que seja alegre; quer uma foto como a que está mostrando ao fotógrafo: nela, há alegria.
com rimas de uma sonoridade ímpar, "encomenda" traz influência do simbolismo, à medida que o lirismo é a sua maior caracterítica, ou seja, a expressão em primeira pessoa, a exposição de emoção, aqui, sem exageros. pois se houvesse, seria romântico. a primeira estrofe beira a singeleza e o clichê. depois, vem o clima sombrio, a constatação de uma ausência. repare: versos de oito sílabas poéticas, octassílabos: raridade.
o eu lírico dispensa lugares comuns na fotografia, como cenários artificiais ou fantasia aleatória. o que se quer é imagem que expõe o invisível através da cadeira. sobra, ao final, a saudade, representada por essa cadeira vazia. pode ser a saudade de alguém distante ou -- como já se disse -- a constatação da solidão do próprio eu lírico. ia escrever "constatação da depressão", mas desisti. 

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

democarcia, vera magalhães e a eleição de 2022

 

milly lacombe, mais uma vez, deixando claro o mundo atual:

"Vera Magalhães virou alvo da violência Bolsonarista. Não são lobos solitários que investem contra o corpo e a dignidade da jornalista. São agentes bem orientados por um tipo de lógica de morte que há mais de quatro anos controla esse país em todos os níveis. O Bolsonarismo precisa da violência de gênero como um vampiro precisa de sangue. Esse é um dos pilares que estruturam a sociedade que bolsonaristas querem erguer (...) Nesse projeto de sociedade, florestas viram pó, corrupção está liberada (chamam rachadinha que é para não assustar), pessoas negras não apitam muito, LGBTQs podem morrer porque não fazem falta. Nessa sociedade, a lógica é miliciana do começo ao fim. Vera Magalhães foi escolhida por essa turma covarde para virar, literal e simbolicamente, o rosto do inimigo (...)[ portal UOL ]

clique para ler o texto todo de milly

olhem, esse atual governo (2019-22) já causou muita trinca na vida brasileira, muita vergonha em que tem mais de um neurônio, por isso, esse tipo de governança precisa acabar. precisa acabar não porque seja uma opinião minha, mas é defesa de humanidade. 
vejam que mesmo vera magalhães, em passado recente, fez deboche da violência sofrida pela ex-ministra damares, além destilar escárnio sobre  a visita de lula ao velório de sua então esposa marisa. claro, nada justifica a violência por ela sofrida. registro isso pra que se tenha ideia do estado de horror e violência em que nos encontramos.
o que fazer: não se deixar contaminar pelo discurso de ódio; não compactuar com quem faz campanha pelo armamento de civis; valorizar o debate sobre atualidades, nas escolas; divulgar ações a respeito do meio ambiente, a respeito da democracia; apoiar candidatos de partidos que são a favor da educação e respeito à diversidade... juro, não é difícil.
vejam, a questão não é votar no fulano, na fulana, mas sim saber a qual plataforma pertencem... porque são os princípios do partido que valem na hora de votar ou barrar projetos, nas assembleias estaduais e na federal, em brasília.
então, sabendo qual é a plataforma (
partido) do candididato ou candidata fica simples perceber se vale a pena ou não apoiar.

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

mais uma vez - legião urbana - comentário

                                  
                                       [ legião urbana, brasília, década 1980 ]

       MAIS UMA VEZ
                       [ Renato Russo ]

  Mas é claro que o sol  Vai voltar amanhã  Mais uma vez, eu sei  Escuridão já vi pior  De endoidecer gente sã  Espera que o sol já vem
  Tem gente que está do mesmo lado que você  Mas deveria estar do lado de lá  Tem gente que machuca os outros  Tem gente que não sabe amar
  Tem gente enganando a gente  Veja a nossa vida como está  Mas eu sei que um dia a gente aprende  Se você quiser alguém em quem confiar  Confie em si mesmo  Quem acredita sempre alcança
  Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena
  Acreditar no sonho que se tem
  Ou que seus planos nunca vão dar certo
  Ou que você nunca vai ser alguém
  Tem gente que machuca os outros
  Tem gente que não sabe amar
  Mas eu sei que um dia a gente aprende
  Se você quiser alguém em quem confiar
  Confie em si mesmo
  Quem acredita sempre alcança
. . . . . . . . . .  .  .  .  .   .   .
a canção da banda legião urbana saiu em 1987. 
época difícil, após ditadura militar (1964-85), com inflação galopante e praticamente nenhuma chance de melhora. nesse sentido, "mais uma vez" tem apelo esperançoso, quase singelo, não fosse o "confie em si mesmo" que destoa da doçura em volta, ou seja, anuncia que poderá vir o sol amanhã, poderá a vida melhorar, mas na contramão de clichês de autoajuda, não será de uma energia vinda do espaço ou do amor entre as gentes, mas da confiança em si próprio. 
muitas vezes me senti assim, tendo esperanças... e, por incrível que pareça, quanto mais velho, mais cético fico em relação a pessoas. quem quer que seja. confiar apenas em si é o básico mesmo. o pior é que sei lidar pouco com isso. pouco ou nada. sobram ansiedade e frustração. é o sinal dos tempos. pode ser a depressão, mais uma vez.

  . . . . . . .  .  .  .  .   .   .   .




quinta-feira, 8 de setembro de 2022

quem somos


                          [ bienal do livro, s paulo, 2004, lançamento de "raposa" ]

carlos henrique carneiro, nascido em ribeirão preto, sp
- formação: letras, universidade estadual de campinas, 1984 a 88

                             
                         [ aos 17 anos, é personagem de "deus me livre", puntel, ed ática ]

inciou profissionalmente no colégio graphos, 1986, nas cidades de são josé do rio pardo, mococa, itapira e esp. s. pinhal, todas no estado de são paulo. professor de literatura e redação. trabalhou na rede objetivo, em campinas, mogi-mirim, mogi-gauçu e bragança paulista, tudo isso entre 1986 e 95.
por quase vinte anos, trabalhou no colégio visconde de porto seguro -- 1992 a 2010 (
coordenador e professor), em valinhos. 
é professor de literatura e história da arte, no curso alethus, rede poliedro, valinhos.
mora em campinas, desde 1984. 

escritor:  "poeta em construção", 1982"raposa", 2004; "camões em perigo", 2015; "determinada mandioca", 2013; "literatura não autorizada", 2014; "abolição via vargas", 2021 ; "atlântida" (monólogo - não publicado), 1998  e artigos sobre literatura no ensino médio, resenhas de obras literárias e afins, nesses últimos trinta anos.

1989: publica artigos aos sábados no jornal "diário do povo", campinas.
1998: junho, dia 21 -- com manuela soares --, monólogo "atlântida", escreveu e dirigiu. campinas, sp. apoio editora costa-flosi. assessoria de marcelo campos.

entre 1996 e 2003: professor convidado da pontifícia universidade católica de campinas, para cursos de extensão, na semana de letras da entidade.
entre 1993 e 2009 autor e encenador, teatro estudantil. trabalhos iniciados dentro do colégio visconde porto seguro, valinhos, ensino médio.
2003 : casado com bia balau -- quatro filhos: fabiana, carolina e felipe. cristiana chegou em 2017.
2004: palestra na casa do artista flávio de carvalho  (1899-1973), a convite da prefeitura de valinhos
2004: lançamento do romance "raposa", na bienal do livro, s paulo
2005: palestra faculdade de paulínia, com o tema: gosto, valor e leitura, a convite do professor olivo bedin
2007: valinhos, abril, palestra sobre arte na galeria joão do monte -- homenagem ao artista
2011 até 2018: colégio asther, campinas. professor de literatura e, especificamente, em 2018, também de história da arte. conhece mariana copertino, karen davini, regina ribeiro, adriano lacerda e leonardo crevelario. sintonia. reencontra alexandre souza, professor de biologia que fora seu aluno, em 1989, em mogi-guaçu.
2011: passa a morar definitivamente com beatriz balau.
2011 até 2015, professor de literatura e redação, colégio julio chevalier, campinas. conhece robson orzari, gustavo pansani e silvana rett, referências.
2012, novembro, no papel, casa-se com bia balau. 
2021 março: começa a escrever novo livro: "abolição via vargas"
2021 dezembro, dia 7, sai "abolição via vargas", ed clube de autores 
2022 março: rede globo -- eptv campinas -- faz matéria sobre "abolição via vargas" (vídeo abaixo)

está no canal youtube;com/letradeletra (clica) com resenhas de artes plásticas, música brasileira e obras literárias do brasil e do mundo: mia couto, fernando pessoa, paulina chiziane, borges, cortázar, carolina de jesus, leroux, machado, clarice, mário de andrade, thiago queiroz, kiusam oliveira, ailton krenak, elliot, tom jobim, florbela espanca, di cavalcanti, eduardo galeano, cartola, valter hugo mãe, chico buarque, edgar a. poe, guimarães rosa, kafka, conceição evaristo, camões, ishiguro, emicida, mestre vitalino, eduardo kobra, coleridge, edson capellato, marcos siscar, alencar, adélia prado, augusto dos anjos, luci collin, dentre tantos outros. tem até drummond e jorge amado, acreditem. 




terça-feira, 30 de agosto de 2022

disfarça e chora - cartola - comentário

 


   DISFARÇA E CHORA
      Cartola (1908 - 80)

 Chora, disfarça e chora
 Aproveita a voz do lamento
 Que já vem a aurora
 A pessoa que tanto querias
 Antes mesmo de raiar o dia
 Deixou o ensaio por outra
 Ó triste senhora
 Disfarça e chora
 Todo o pranto tem hora
 E eu vejo seu pranto cair
 No momento mais certo
 Olhar, gostar só de longe
 Não faz ninguém chegar perto
 E o seu pranto, ó triste senhora
 Vai molhar o deserto
 Chora, disfarça e chora

  . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   .

samba critica com algum escárnio o amor platônico de uma senhora por alguém. este objeto do desejo acaba indo para outra pessoa. "deixar o ensaio" pode significar metaforicamente, ensaio de escola de samba, ou seja, o sambista mudou de escola antes do carnaval; ou então: seu amor se foi antes da realização amorosa desejada... o que gerou choro. repare a figura de linguagem hipérbole: lágrimas vão molhar o deserto. é demais.
a letra dá uma lição à senhora triste: "gostar de longe" não resolve. 
cartola foi um dos fundadores da escola de samba estação primeira de mangueira. o apelido "cartola", veio dos tempos em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu.

. . . . . . . . . .  .  .  .  .   .

saiba mais:


 

 



quarta-feira, 24 de agosto de 2022

papai noel às avessas - drummond

                                     

 [ ilustração de di cavalcanti para drummond, anos 1920 ]


drummond tem um poema despretensioso, desses que só funcionam quando a gente lê os outros do mesmo livro. enfm, chama-se "papai noel às avessas". nele, o leitor acompanha a entrada de um papai noel numa casa humilde e ele sai de lá carregando os brinquedos das crianças. 
o texto saiu no jornal, pela primeira vez em 1927. di cavalcanti gostou e fez desenho. pouco tempo depois, em 1930, o poema seria publicado em "alguma poesia".

"papai noel às avessas" ilustraria a vontade do poeta de expor mazelas sociais e situações do cotidiano de vidas urbanas. o homem que entrou na casa queria um tanto de alegria. queria os brinquedos. 
ame-se mais, dizem os animadores de neurônio alheio. goste-se. confie em si mesmo apenas... etc etc... 
esse papai noel larápio do texto realmente pensou mais em si. quis presentear-se. entrou pela casa e, mais do que algum relógio, roupas, dinheiro, ele levou brinquedos. 
seria uma criança tardia? um saltimbanco maligno? alguém deprimido querendo diversão? é o que acontece numa relação intensa: um fica com os prazeres do outro, não é assim? ficar com alegria de alguém é crime? papai noel às avessas não está aí pra ser símbolo do ladrãozinho. ele fez o óbvio. fez o que todo mundo crê que deveria fazer: pensar em si. mas... se quiserem chamar esse papai noel de simples ladrão, então tá.
não vejo graça nesse lance de simplesmente gostar-se mais e ponto, se o que a gente quer é o outro, se o que a gente quer é o gozo compartilhado.

. . . . . . . .  .  .  .  .   .   .   .    .    .    .

leia o poema todo:

Papai Noel entrou pela porta dos fundos
(no Brasil as chaminés não são praticáveis),
entrou cauteloso que nem marido depois da farra.
Tateando na escuridão torceu o comutador
e a eletricidade bateu nas coisas resignadas,
coisas que continuavam coisas no mistério do Natal.
Papai Noel explorou a cozinha com olhos espertos,
achou um queijo e comeu.

Depois tirou do bolso um cigarro que não quis acender.
Teve medo talvez de pegar fogo nas barbas postiças
(no Brasil os Papai-Noéis são todos de cara raspada)
e avançou pelo corredor branco de luar.
Aquele quarto é o das crianças
Papai entrou compenetrado.
Os meninos dormiam sonhando outros natais muito mais lindos
mas os sapatos deles estavam cheinhos de brinquedos
soldados mulheres elefantes navios
e um presidente de república de celulóide.
Papai Noel agachou-se e recolheu aquilo tudo
no interminável lenço vermelho de alcobaça.
Fez a trouxa e deu o nó, mas apertou tanto
que lá dentro mulheres elefantes soldados presidente brigavam
                                                                               [ por causa do aperto.

Os pequenos continuavam dormindo.
Longe um galo comunicou o nascimento de Cristo.
Papai Noel voltou de manso para a cozinha,
apagou a luz, saiu pela porta dos fundos.
Na horta, o luar de Natal abençoava os legumes.

C D Andrade - Alguma Poesia
. . . . . . . . . . . . . .  .  .   .

saiba mais:



quinta-feira, 18 de agosto de 2022

segue neste soneto a máxima de bem viver - gregório de matos

 


SEGUE NESTE SONETO A MÁXIMA DE BEM VIVER QUE É ENVOLVER-SE 
NA CONFUSÃO DOS NÉSCIOS PARA VIVER MELHOR A VIDA

 Carregado de mim ando no mundo,
 E o grande peso embarga-me as passadas,
 Que como ando por vias desusadas,
 Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.

 O remédio será seguir o imundo
 Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
 Que as bestas andam juntas mais ornadas
 Do que anda só o engenho mais profundo.

 Não é fácil viver entre os insanos,
 Erra, quem presumir, que sabe tudo,
 Se o atalho não soube dos seus danos.
 
 O prudente varão há de ser mudo,
 Que é melhor neste mundo o mar de enganos
 Ser louco co's demais, que só, sisudo.

             Gregório de Matos, século 17, Bahia

poeta está decidido a ir na contramão da lógica conservadora e unir-se aos chamados "néscios" -- como diz o título -- ou seja, juntar-se aos idiotas, ignorantes, loucos. 
ter andado por vias desusadas trouxe peso ao eu lírico. significa que o poeta pecou demais. remédio? resposta na segunda estrofe: seguir o caminho sujo mesmo. nele, neste caminho, há mais bestas e elas ficam bem ornadas juntas.
ao final, destaca: melhor a companhia da gentalha, dos loucos, do que ser um sério 
(sisudo), ajuizado solitário.
muitas vezes já me senti como nos primeiros versos de gregório. não que as "vias desusadas" fossem as do crime, as da maldade explícita, eram vias de mim mesmo. as vias da busca do que era o amar. meio tarde, aprendi que amor pleno era invenção da literatura, a vida não tem clichê.
nessa procura de um eixo entre amor possível e realidade tomei muito coice. apelidos, galhofa, ironias de todo tipo, por conta dessa ou daquela postura mais sensível. no acerto ou nas besteiras continuei debaixo de vaia. abandono,  hipocrisias e praticamente nenhum perdão. nesse quesito compreensão do amar tenho sido um fracasso. esse gregório aí tem toda razão.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

elza é filha de virgília e mãe de helena

 


elza é fräulein. a senhorita. 35 anos, cultura alemã.
o livro: "amar, verbo intransitivo" (mário de andrade).
elza é professora de piano e vai, nesta história, ter a função de ser a iniciadora amorosa do jovem carlos alberto, 15 anos. é o romance de mário é de 1927.

virgília é a não menos famosa amante de cubas, lá em machado de assis. e helena vem do século 20, no livro "três mulheres de três pppês", do paulo emílio, um dos melhores que já li. 
ambas carregam um protagonismo ímpar, dado o contexto de suas aparições: virgília em fins do século 19 e helena pela década de 1930. 
 
saber mais? veja o vídeo abaixo.



sábado, 6 de agosto de 2022

sim - cartola - comentário

 


           SIM
         Cartola [ 1908 - 80 ]

  Sim,
  Deve haver o perdão
  Para mim
  Senão nem sei qual será
  O meu fim
  Para ter uma companheira
  Até promessas fiz
  Consegui um grande amor
  Mas eu não fui feliz
  E com raiva para os céus
  Os braços levantei
  Blasfemei
  Hoje todos são contra mim
  Todos erram neste mundo
  Não há exceção
  Quando voltam a realidade
  Conseguem perdão
  Porque é que eu Senhor
  Que errei pela vez primeira
  Passo tantos dissabores
  E luto contra a humanidade inteira
    . . . . . . . . . . . . .  .  .

samba com jeito de relato pessoal. o poeta está indignado porque não foi perdoado em função de sua blasfêmia, ou seja, culpou os céus e o "senhor" pela infelicidade amorosa. pessoas à sua volta criticam esta má ação, o que gera revolta, uma vez que todos são perdoados quando erram, menos ele. o poeta argumenta ao "senhor" que fez promessas, porque era de um grande amor que necessitava. reparem que o eu poético não se diz arrependido pelas blasfêmias, mas busca o perdão. o "sim" solitário do primeiro verso indica que deve haver esse perdão: é uma afirmação contudente, praticamente intimando os céus a livrá-lo da culpa.
cartola: agenor de oliveira, nascido no rio de janeiro, 1908. falecido na mesma cidade, 1980. torcedor do fluminense e um dos fundadores da escola de samba estação primeira de mangueira. o apelido "cartola", veio dos tempos em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu.