quarta-feira, 27 de julho de 2022

masculinidade tóxica

 


milly lacombe deu a letra a respeito do episódio da simulação tosca de penalidade protagonizada por neymar, neste julho 2022, em um jogo amistoso, contra uma equipe japonesa:

(...) Abel Ferreira recentemente disse que somos ruins em formar homens. Não sabemos mesmo. Embora ele falasse apenas a respeito da classe "jogador de futebol" a verdade é que somos uma sociedade absolutamente fracassada na masculinidade tóxica. Incentivados a não amadurecerem. Incentivados a serem espertos. Incentivados a não levarem desaforo pra casa. A ludibriar, ter vantagem, (...) Abel está certo. Falhamos nesse negócio de formar homens. (...) A boa notícia é que é possível desprogramar esse negócio de masculinidade tóxica. Muitos homens estão nessa aventura. Muitos estão na batalha para se deseducar de padrões limitantes. Muitos estão lendo mulheres, escutando mulheres, estudando mulheres, citando mulheres. E muitos estão sendo bem sucedidos na tarefa. Para sorte de todos os envolvidos.

  [ Milly Lacombe, portal UOL - julho 2022 ]

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leia mais sobre o tema:

neymar envergonha o futebol brasileiro [ clica ]

neymar simula pênalti  [ clica ]



quarta-feira, 20 de julho de 2022

silêncio de um cipreste - cartola - comentário

 


     SILÊNCIO DE UM CIPRESTE
            Cartola [ 1908 - 80 ]

  Todo mundo tem o direito
  De viver cantando
  O meu único defeito
  É viver pensando
  Em que não realizei
  E é difícil realizar
  Se eu pudesse dar um jeito
  Mudaria o meu pensar
  O pensamento é uma folha desprendida
  Do galho de nossas vidas
  Que o vento leva e conduz
  É uma luz vacilante e cega
  É o silêncio do cipreste
  Escoltado pela cruz

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canção expõe nota de arrependimento e busca de acolhimento. a tal da empatia, como se diz nesse nosso século.
o eu lírico mostra que seu defeito é pensar no que não fez... parece mesmo que existe culpa, nessa letra de cartola. então, a solução para o defeito seria mudar o pensamento – ao invés de tentar fazer alguma coisa. o pensamento, segundo o texto, é folha do cipreste que o vento leva, não tem peso. uma ação, pelo contrário, fica, tem peso, pode ser julgada. uma outra leitura seria a chance deixar de crer que seja ele 
 o pensar  um defeito. 

cartola: agenor de oliveira, nascido no rio de janeiro, 1908. falecido na mesma cidade, 1980. torcedor do fluminense. um dos fundadores da escola de samba estação primeira de mangueira. o apelido "cartola", veio dos tempos em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu. 

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saiba mais :



sexta-feira, 15 de julho de 2022

paraty é de pedra possível

 

                                       caborê é cervejaria oficial da cidade de paraty

minha amiga tatjana vai a paraty, então, resolvi colocar uma lista de possibilidades aqui, de repente ajuda
quatro igrejas, no centro histórico: matriz dos remédios, com praça na frente; igreja do rosário; das dores e a famosa santa rita

1. a rua do fogo é passagem quase obrigatória. ela termina -- ou começa -- numa das laterais da igreja de santa rita.
2. o bar casa coupê é imprescindível: do lado da igreja matriz, na praça, tem no croquete de costelinha sua maior obra. seguido de perto por qualquer outra coisa que contenha frutos do mar. peça a pimenta da casa, por favor. na calçada da frente, na árvore, um comedouro de aves. com sorte, você vê sanhaçus, ferro-velho, cambacicas e outros seres voadores
3. livraria das marés: tem espaço, livros ligados à história da cidade e um café, ao fundo
4. margarida café: melhor truta com purê de batata doce do universo. além do drink jorge amado
5. ver as maçãs do elefante, na praça da matriz
6.outro estabelecimento com "café" no nome: café pingado. traz bolinhos saborosos com canela e os impagáveis docinhos de cachaça.
7. boteco da matriz é visita esperada. na traseira da igreja dos remédios. lá tem porções variadas e cervejas artesanais
8. andar pela praia de jabaquara. tem um ponto de ônibus que é parada de leitura. livros doados para compartilhar. tem também sombra, areia, sons de pássaros, uma dezena de quiosques ofertando de tudo, até o drink "jorge amado" -- recomendo!
9. a luz do inverno sobre o mar: vá para frente da ponte sobre o rio perequê, pertinho da matriz e olhe
10. ouvir os bem-te-vis do centro histórico: fazem coro com os periquitos. é audição que abraça e conforta

divirta-se!

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                                                                       [ paraty ]

                                              [ drink jorge amado no margarida café]

                                                           [ maçã do elefante ]

                                           
  [ croquete de costelinha - bar coupe ]

                                                     [ boteco da matriz ]

                                        [ trindade -- boteco da matriz -- ]

                                                                      [ jabaquara ]


  [ rio perequê, mar e biguás ]

que é feito de você - cartola - comentário

 


   QUE É FEITO DE VOCÊ
         Cartola (1908-80)

 O que é feito de você ó minha mocidade?
 Ó minha força, a minha vivacidade?
 O que é feito dos meus versos e do meu violão?
 Troquei-os sem sentir por um simples bastão
 E hoje quando passo a gurizada pasma
 Horrorizada como quem vê um fantasma
 E um esqueleto humano assim vai
 Cambaleando quase cai, não cai
 Pés inchados, passos em falso
 O olhar embaçado
 Nenhum amigo ao meu lado
 Não há por mim compaixão
 A tudo vou assistindo
 A ingratidão resistindo
 Só sinto falta dos meus versos
 Da mocidade e do meu violão
 . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   .   .   .

neste samba, o eu lírico vê que sua mocidade não mais existe. a vivacidade não é mais a mesma. ele demonstra a tristeza pela passagem do tempo.  o que se lê, aqui, é o poeta ressentido. no momento da vida relatado no texto, está sem os amigos, sem os versos, sem o violão e "quase cai, não cai". 
o "bastão" pode ser uma simples bengala, como pode ser o cigarro. o texto pode ser também uma alegoria aos novos tempos que chegavam à música brasileira, meados dos anos 1950: a bossa nova e uma "gurizada" que preferia lugares refinados: gente que não era do subúrbio, nem do morro, nesta época. a bossa nova deu outra roupagem ao samba. embranqueceu, por assim dizer, a música típica dos pretos, no rio de janeiro, naquele tempo.

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sábado, 9 de julho de 2022

alvorada - cartola - comentário


            ALVORADA
      Cartola  [1908 - 80]

 Alvorada lá no morro, que beleza
 Ninguém chora, não há tristeza
 Ninguém sente dissabor
 O sol colorindo é tão lindo, é tão lindo
 E a natureza sorrindo, tingindo, tingindo
 Você também me lembra a alvorada
 Quando chega iluminando
 Meus caminhos tão sem vida
 E o que me resta é bem pouco
 Quase nada, de que ir assim
 Vagando numa estrada perdida
 Alvorada
  . . . . . . . . . .  .  .  .  
.  .   .   .

samba contrapõe a paisagem do morro à realidade triste do poeta, dentro de seus caminhos "tão sem vida". uma maneira de ter mundo melhor seria o momento da chegada da pessoa amada, comparada, claro, ao amanhecer no morro, lugar sem tristeza e muito lindo. olhem, todos sabemos -- até os que não moram no morro -- que a vida nesses locais é árdua. às vezes o saneamento básico é precário, falta transporte, pouco acesso a diversão imediata... agora, o texto de cartola aponta para uma visão romântica do morro: terra maravilhosa, feita de alegria, lembra aquele poema do gonçalves dias, "canção do exílio".

cartola: agenor de oliveira, nascido em cantagalo, rio de janeiro, 1908. falecido em 1980, na mesma cidade.  o apelido "cartola" veio do tempo em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu. 



segunda-feira, 4 de julho de 2022

julho 2022

 


julho 2022 e como estamos?
ansiedade diminui mas existe. exercícios físicos são um tiquinho mais regulares. em seis meses perdi dez quilos. isso mesmo: dez. dieta, nervosismos, sorte, terapia, essas coisas.
julho 2022.
pais estão em casa de acolhimento de idosos. difícil usar o termo "asilo". nosso preconceito estrutural em relação à velhice é mais sólido que as pirâmides. asilo não dá. por tradição, brasil sempre descartou nossa gente idosa. mas isso não interessa agora. eles estão lá, o lugar parece bom, jardim, enfermagem, refeições frescas, exercícios e tempo.
aqui, tenho comprimidos: o antidepressivo e um outro lá pra pressão alta. tem fitoterápico pra acalmar alguma engrenagem que se solte. óleos essenciais também tem aqui.
três, quatro pessoas me ouvem regularmente. uma é a analista.
então, pais estão nessa casa desde 16 de junho de 2022. e estamos em julho. e daí, você vai perguntar. daí que é difícil. pode ser que queiram sair. pode ser que enjoem... que se sintam abandonados. arrepia pensar nisso, cérebro tem vida própria e de tempo em tempo ele me joga nos olhos um desses cenários. eles estão lá, sendo cuidados, é o que importa. pelo menos eles.


sábado, 2 de julho de 2022

carol e a conexão raiz

 


segunda-feira, 20 de junho 2022, carol carneiro estava aqui e resolvemos ir ao espaço da academia do condomínio, logo cedo.
no elevador, eu disse: vou te apresentar minha nova amiga.
e ela: quem é sua nova amiga?
eu: a pata de vaca.
costumo cumprimentar essa árvore sempre que posso. é só tocar nela e a conexão se faz. eu, a pata de vaca, o planeta e as entidades todas que atendem por "natureza". faz bem. lembra aquelas cenas do primeiro "avatar", do cinema.  só não uso os cabelos, mas uma das mãos mesmo.
bonito de verdade foi ver carol também fazer o gesto, assim que pus a mão no tronco da árvore. então, ficamos os conectados. pra sempre. ponto pra terra.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

minha ansiedade é uma frase passageira

                                                             

esses últimos vinte dias de junho foram movimentados demais. um misto de ressaca do mar e queda de meteorito. sentia que havia uma rave de babuínos dentro do peito. não vou entrar em detalhes, há mais vida lá fora e parece que vou melhorar. mas aprendi que em meio a ansiedades e frustrações o que resta é viver um dia por vez. dificílimo pra mim, porém cérebro é pra usar.
tento beber e fumar menos, isso é fato. vou a médicos, tomo comprimido. existe a terapia. existe a movimentação física. existe o trabalho. existem pessoas em volta, ainda preciso acreditar em alguém... 
ansiedade, um dia ela vai embora. e você, que nem ansioso é, garanto que leu "fase", no título dessa croniqueta. frase boa é só uma fase mesmo.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

pais idosos vão para casa de repouso, em ribeirão preto

 

2022: de 09 a 18 de junho, praticamente dez dias, estive em ribeirão preto, apartamento de pais idosos, ambos próximos dos 90 anos.
minha mãe caiu, em abril, dentro de casa, quebrou fêmur.
precisa acompanhamento o tempo todo; a memória falhando muito. meu pai já não tem o vigor de antes, memória vai enfraquecendo...
eu e irmão decidimos, nesses dez dias, que os pais iriam para uma casa de repouso, lá em ribeirão preto mesmo. e assim se fez. é 
lugar com enfermeiras tempo todo e médico regularmente. fora outras pessoas para conversar e atividades físicas (
musicoterapia, educação física, jogos de escrita, memória etc
).
o nó é a sensação que fica de desmembramento das rotinas de todos: eu, irmão e pais. cada um com sua ansiedade. cada um com seu touro selvagem dentro do peito. mas tenho ouvido de gente próxima que o que foi feito foi o melhor, o mais acolhedor etc etc. na casa de repouso os dois estão cercados de cuidados. é brisa que traz algum conforto. e estou procurando atividade física mais regular, para mim mesmo, como frequentar -- mesmo que irregularmente -- o pequeno espaço de academia aqui do prédio onde moro... deve ajudar.
recebi energia de família, amigos, amigas, meus alunos, alunas, colegas de escola, figuras mais e menos distantes, isso anima e me berça. essas energias continuam me acolhendo. o muito obrigado, aqui, é o mínimo.


terça-feira, 21 de junho de 2022

cordas de aço - cartola - comentário

 

    CORDAS DE AÇO
     Cartola [1908 - 80]

 Ah, essas cordas de aço
 Este minúsculo braço
 Do violão que os dedos meus acariciam
 Ah, este bojo perfeito
 Que trago junto ao meu peito
 Só você violão
 Compreende porque perdi toda alegria
 E no entanto meu pinho
 Pode crer, eu adivinho
 Aquela mulher
 Até hoje está nos esperando
 Solte o teu som da madeira
 Eu você e a companheira
 Na madrugada iremos pra casa
 Cantando
 

* pinho: violão (madeira usada para o instrumento)
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muito comum, no século 20, referir-se ao corpo das mulheres como "violão", por conta de sua forma ondulada, lembrando a cintura de uma figura feminina. o texto de "cordas de aço" traz a relação de um músico e seu violão. o instrumento pegado ao peito indica intimidade e cumplicidade. o poeta está sem "aquela mulher" (verso 10). num  determinado momento se lê: "perdi toda a alegria". restou a ele, poeta, a companhia do instrumento que expressa emoção. contudo, ela deve estar esperando e, assim que o violão soltar seu som, ela irá juntar-se aos dois. repare que a expressão "cordas de aço" também pode fazer referência à prisão; àquilo que prende; uma ligação muito forte: o amor. mais do que isso, pode também ser a ligação com o samba que, além de acalmar sofrimento, o aproxima da mulher amada.
cartola: agenor de oliveira, nascido no rio de janeiro, 1908. falecido na mesma cidade, 1980. o apelido "cartola" veio dos tempos em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu. 
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terça-feira, 14 de junho de 2022

o poder e a glória da edição: cortar é uma arte?

 


não consigo trabalhar sem um plano. aula; uma viagem; horários de chegada em determinado lugar... etc... embora, para algumas ações, só o primeiro ímpeto já vale o início de determinada tarefa, como, por exemplo, gravar vídeos para o canal do youtube. eles chegam ao espectador recheados de cortes, alguns suaves, imperceptíveis, outros abruptos e quase risíveis. algumas vezes refaço a gravação, mas na maioria delas, deixo como está, porque não quero o grammy latino, o troféu de edição, mas transmitir alguma coisa útil: literatura. e um pouco do meu jeito único de destroçar vídeos.
por que escrevo isso? 
não sei.

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este do nelson é um dos mais retalhados 

[ nos comentários tem uma crítica construtiva, aliás ]



quarta-feira, 8 de junho de 2022

as rosas não falam - cartola - comentário

                    

     AS ROSAS NÃO FALAM
        Cartola  [1908 - 80]

 Bate outra vez
 Com esperanças o meu coração
 Pois já vai terminando o verão
 Enfim
 Volto ao jardim
 Com a certeza que devo chorar
 Pois bem sei que não queres voltar
 Para mim
 Queixo-me às rosas
 Que bobagem as rosas não falam
 Simplesmente as rosas exalam
 O perfume que roubam de ti, ai
 Devias vir
 Para ver os meus olhos tristonhos
 E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
 Por fim
 
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saudade é o tema deste samba de cartola. qual a queixa do poeta? resposta: desilusão amorosa. o eu lírico divide com as rosas a tristeza que sente pela ausência da pessoa amada. o coração dá o tom -- vermelho -- à sensação, ou seja, ele vê, na rosa, o seu coração ferido e tenta falar com a pessoa amada, mas é inútil. as rosas -- cor avermelhada -- acentuam o estado emotivo do poeta que sonha com a volta de seu amor. para compensar a solidão e a tristeza, as rosas exalam o perfume que lembra a pessoa querida. ao final, a voz poética deixa recado a ela, pedindo que venha vê-lo outra vez para, de repente, sonhar com ele.

agenor de oliveira, nascido em cantagalo, rio de janeiro, 1908. falecido na mesma cidade, em 1980. torcedor do fluminense. um dos fundadores da escola de samba estação primeira de mangueira. o apelido "cartola" veio dos tempos em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu.