um dos melhores romances dos últimos tempos.
itamar vieira jr.
veja resenha aqui neste vídeo
O CONDE D. HENRIQUE
Todo começo é involuntário.
Deus é o agente,
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.
À espada em tuas mãos achada
Teu olhar desce.
«Que farei eu com esta espada?»
Ergueste-a, e fez-se.
[ in: Mensagem, 1934, Fernando Pessoa ]
- notas -
conde d. henrique (1057-1114) - nobre militar, alistado no exército de afonso VI
(leão e castela) para combater mouros; casou com tareja, filha do rei e tornou-se
governador do condado portucalense, em 1093
o condado seria o núcleo do país independente, sob comando do filho de henrique e
tareja: afonso henriques
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- henrique parece agir sob comando de uma energia maior: "fez-se", é
o que se lê no fim, assim como "deus é o agente", verso 2
- o conde é o embrião do país, como se vê na história e o poema denota
que, sem saber o que fazer com o poder (espada), apenas a ergueu e isso
foi o bastante
- a razão pela qual fatos acontecem pode escapar do entendimento: isso
é uma tônica no livro "mensagem" como um todo
- homem seria instrumento de algo maior
[ dahmer ]
- a palavra "destino", nesta charge de dahmer, pode apresentar dois significados possíveis, respectivamente:
a) endereço e independência
b) endereço e finalidade da existência
c) finalidade da existência e angústia
d) angústia e endereço
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resposta
B
agosto de 2021. vacinação.
o estado de são paulo, hoje, chega a pouco mais de 73% dos habitantes com ao menos uma dose.
os totalmente vacinados, no estado, não chegam a 33% ainda...
no brasil todo, o número de imunizados completos é de 24%. vinte quatro! ou seja, pouquíssimo! não é normal! não estamos bem!
agosto 2021: estados unidos, alemanha e grã-bretanha têm o total de 52% de vacinados. no chile, 67% da população está imunizada.
pelo país acompanha-se a saga da ignorância em ascensão, gente esquecendo da segunda dose ou não dando importância. e aqueles que fazem força para empacar na burrice escolhendo tipos de vacina. dá vontade de desistir.
[ até final de agosto, os números devem subir, é o que se espera... estado de são paulo pode bater os 40% com imunização completa... e o país todo, pode chegar a 40% ou 42% ]
hoje, o que fazer?
- divulgar locais de vacinação.
1. valorizar o distanciamento; não aglomerar; usar máscara
2. higienizar, cuidar das crianças e idosos
3. valorizar aplicativos para entrega de alimentos e outras necessidades
4. em sua cidade, reconhcer postos para doação de alimentos
5. lembrar sempre que ciência é o que salva
6. nas próximas eleições votar em que apoia saúde e pesquisa
e só.
- - - os dados aqui: vacinação no mundo - clique
- - - fundação feac - campinas doação contra fome - clique
[ se gostou, achou útil, divulgue esse post, obrigado! ]
passar de ano é o grande barato de nossos estudantes, desde a criação do colégio de jesuítas, na bahia, do século 16.
professores dos mais variados matizes têm sido experts nessa postura de buscar suposto aprendizado pela ameaça da avaliação. "vai cair na prova" é expressão gasta e muito útil para 99,99% dos professores e professoras que vivem aqui. o restante? os outros 0,01%, estão de parabéns.
dá pra utilizar o longa metragem na escola e discutir, sim, afetividade entre meninos, assim como entre meninas. recomendo fundamental 2, desde sétima série ou até antes.
o debate precisa existir.
se acontecer na escola, melhor ainda.
gil vicente ( série "inimigos") - bienal 2010
falo com meus alunos sobre o parnasianismo, estilo literário muito do empolado, cheio de firulas em versos e que muitos rotulavam de "arte pela arte". merecido. deveria ser chamado "fazer por fazer", um estilo que não combina com temas sociais, nem propõe filosofias. perfumaria pura. já aviso: não desconsidero o apelo artístico. é arte. eu só não gosto.
vejam, o soneto famoso da época é mesmo "a um poeta", assinado por bilac (aquele do hino à bandeira). pois bem, lá notexto tem-se a receita do modus vivendi parnasiano: longe do "turbilhão da rua" (distante de questões sociais) o poeta deveria dedicar-se a uma obra que fosse bela. arte pura… como um templo grego. até aí, as coisas.
de novo: não creio que a condição para eu gostar da arte é ter ou não questões sociais. o que incomoda, aqui, é o mero joguinho de palavras para se exibir a - suposta - habilidade para montar versos metrificados.
ano de 2010. s paulo. bienal internacional de arte: gil vicente, artista plástico pernambucano tem causado desconforto à patuleia paulista, quando estes estão diante de seus desenhos, na bienal, no ano de 2010. neles o próprio vicente está matando líderes políticos, como fhc, o papa ou george bush, dentre outros. são desenhos. estão na moldura, presos à parede. não se moverão. obviamente a vetusta ordem dos advogados do brasil fez menção de repúdio ao artista. não fez o mesmo quanto ao palhaço candidato, com nome de mato rasteiro. mas isso é outra conversa.
O OITAVO PECADO
[ Bilac ]
Vivendo para a morte, alegre da tristeza,
Temendo o fogo eterno e a danação sulfúrea,
Gelaste no cilício, em ascética fúria,
A alma ridente, o sangue em esto, a carne acesa.
Foste mártir e herói da própria natureza.
Intacto de ambição, de desejo ou de injúria,
Para ganhar o céu, venceste a ira, a luxúria,
A gula, a inveja, o orgulho, a preguiça e a avareza.
Mas não amaste! E, além do Inferno, um outro existe,
Onde é mais alto o choro e o horror dos renegados:
Ali, penando, tu, que o amor nunca sentiste,
Pagarás sem amor os dias dissipados!
Esqueceste o pecado oitavo: e era o mais triste,
Mortal, entre os mortais, de todos os pecados!
[ in: Tarde, 1918 ]
notas: esto - calor; paixão
ascética - a que defende abstenção ante prazeres físicos
cilício - veste ou faixa carregada de metal para ferir a pele
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soneto alexandrino : doze sílabas poéticas por verso e 14 versos ao todo
poema revela que existe quem teme o fogo eterno (inferno, segundo cristãos), daí a necessidade de penintância para buscar o céu (paraíso)
repare o paradoxo do verso 1: "alegre da tristeza", ou seja, saber da morte é uma tristeza, mas o penitente está justamente buscando isto, portanto, também alegre, já que poderá ir ao paraíso se sofrer
leia-se: é necessário gelar -- via penitência do cilício -- o desejo sexual, a "carne acesa" ...
o eu lírico lista os pecados capitais do universo cristão e faz crítica àquele que se penitenciou -- sem amar -- para conseguir o tal paraíso: eis o oitavo pecado.
diz o penúltimo verso: "esqueceste o pecado oitavo", ou seja, não amar.
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saber mais :
[ laerte ]
a) paradoxo
b) metalinguagem
c) clichê
d) personificação
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resposta
C
A I A R A [ Olavo Bilac ]
Vive dentro de mim, como num rio,
Uma linda mulher, esquiva e rara,
Num borbulhar de argênteos flocos, Iara
De cabeleira de ouro e corpo frio.
Entre as ninfeias a namoro e espio:
E ela, do espelho móbil da onda clara,
Com os verdes olhos úmidos me encara,
E oferece-me o seio alvo e macio.
Precipito-me, no ímpeto de esposo,
Na desesperação da glória suma,
Para a estreitar, louco de orgulho e gozo...
Mas nos meus braços a ilusão se esfuma:
E a mãe-d’água, exalando um ai piedoso,
Desfaz-se em mortas pérolas de espuma.
[ in: Tarde, 1919 ]
notas - -
- iara: ser mitológico metade peixe, metade mulher, com feições indígenas é também conhecida no folclore brasileiro como mãe-d'água e, segundo lenda, atrai homens para o fundo do rio... quem consegue espcapar acaba ficando louco
- ninfeia: espécie de planta aquática
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- poeta, feito um narciso tupiniquim, vê na água o reflexo da deusa iara... na verdade, pode estar olhando para si mesmo, como se vê no verso 1
- ela parece oferecer seu corpo a ele
- ou eu lírico precipita-se então para agarrá-la com "ímpetos de esposo", ou seja, desejo sexual.
- iara o engana, deixando o poeta apenas molhado das águas do rio
- cheia de ironia -- talvez pena -- a mãe d´água solta um "ai", no final
- texto metrificado, segundo a lógica do parnasianismo: verso decassílabo
- há indício de loucura no poeta, logo no verso 1, quando afirma que a deusa do rio vive dentro de si, ou seja, o que ele vê, na água, seria seu próprio reflexo
- na verdade, versão tradicional do mito indígena é esquecida: iara, aqui no texto, é loira (cabelos "de ouro") -- poeta deve estar maluco mesmo...
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saiba mais sobre o poetastro :