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sexta-feira, 15 de julho de 2022

que é feito de você - cartola - comentário

 


   QUE É FEITO DE VOCÊ
         Cartola (1908-80)

 O que é feito de você ó minha mocidade?
 Ó minha força, a minha vivacidade?
 O que é feito dos meus versos e do meu violão?
 Troquei-os sem sentir por um simples bastão
 E hoje quando passo a gurizada pasma
 Horrorizada como quem vê um fantasma
 E um esqueleto humano assim vai
 Cambaleando quase cai, não cai
 Pés inchados, passos em falso
 O olhar embaçado
 Nenhum amigo ao meu lado
 Não há por mim compaixão
 A tudo vou assistindo
 A ingratidão resistindo
 Só sinto falta dos meus versos
 Da mocidade e do meu violão
 . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   .   .   .

neste samba, o eu lírico vê que sua mocidade não mais existe. a vivacidade não é mais a mesma. ele demonstra a tristeza pela passagem do tempo.  o que se lê, aqui, é o poeta ressentido. no momento da vida relatado no texto, está sem os amigos, sem os versos, sem o violão e "quase cai, não cai". 
o "bastão" pode ser uma simples bengala, como pode ser o cigarro. o texto pode ser também uma alegoria aos novos tempos que chegavam à música brasileira, meados dos anos 1950: a bossa nova e uma "gurizada" que preferia lugares refinados: gente que não era do subúrbio, nem do morro, nesta época. a bossa nova deu outra roupagem ao samba. embranqueceu, por assim dizer, a música típica dos pretos, no rio de janeiro, naquele tempo.

. . . . . . .  .  .  .  .   .   .

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sábado, 4 de dezembro de 2021

moça e soldado - carlos drummond - comentário

 

   MOÇA E SOLDADO

 Meus olhos espiam
 a rua que passa.

 Passam mulheres,
 passam soldados.
 Moça bonita foi feita para
 namorar.
 Soldado barbudo foi feito para
 brigar.
 Meus olhos espiam
 as pernas que passam.
 Nem todas são grossas...
 Meus olhos espiam.
 Passam soldados.
 ... mas todas são pernas.
 Meus olhos espiam.
 Tambores, clarins
 e pernas que passam.
 Meus olhos espiam
 espiam espiam
 soldados que marcham
 moças bonitas
 soldados barbudos
 …para namorar,
 para brigar.
 
 Só eu não brigo.
 Só eu não namoro.

    [carlos drummond - alguma poesia, 1930]

poema de versos brancos, à moda do primeiro modernismo. segundo a crítica, o livro "alguma poesia" (1930) abre a segunda fase desse modernismo. uma honra para o mineiro de muitos livros.
o eu lírico, em "moça e soldado" é figura pacata que só observa o cotidiano. 
repare que é a rua quem passa e não ele, nessa perspectiva do tímido.

"moça e soldado" explicita uma antítese, uma contradição entre o prazer e o dever; entre a beleza (moça) e a chatice -- o incômodo (confrontos, brigas).
essa contradição acaba trazendo, no fim, algo em comum que é justamente o fato de que o poeta não tem a moça muito menos poder de briga. eu ia escrever "poder de fogo", desisti.
e mais: a repetição da palavra "pernas" vai ao encontro do que se lê em "no meio do caminho", poema do mesmo livro. explicando: as pernas passam e o eu lírico não muda de postura. não reage, apenas olha. as pernas passam, tanto a das moças como a dos soldados. o poeta nada faz. apenas contempla. ele continua menor, importente, diminuído. é a tônica dos primeiros livros do poeta, esse "eu menor que o mundo". 
há o machismo inerente à cultura das nossas gentes, principalmente, século 20 pra trás: "moça bonita foi feita pra namorar". reparem, não é qualquer moça... precisa ser bonita. é chato. 

. . . . . . 

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quarta-feira, 7 de março de 2018

a teus pés - ana cristina césar



A TEUS PÉS (1982)

poesia intimista com gosto pleo cotidiano. linguagem que também apresenta o prosaico, algum humor, versos livres, num livro povoado de referências literárias e de lirismo.

. . . . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   .  

mocidade independente 

Pela primeira vez infringi a regra de ouro e voei pra cima sem medir as consequências. 
Por que recusamos ser proféticas? E que dialeto é esse para a pequena audiência de serão?
Voei pra cima: é agora, coração, no carro em fogo pelos ares, sem uma graça atravessando o estado de São Paulo, de madrugada, por você, e furiosa: é agora, nesta contramão. 

. . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   .    .

é confessional, um tanto visceral. 
contudo,  há mais jogo de frases do que uma profundidade que lhe atribuem. muito se fala dela -- e mais será dito, ao longo de 2018 por conta do vestibular -- em função de sua morte precoce, aos trinta anos. mas o foco precisa ficar nos textos. profundos ? nem tanto. a década de 1970 produziu poesia marginal de bom calibre, com cacaso, capinan, chacal, leila miccolis, até leminski. não dá pra comparar. a veia escritora de ana c. era ainda de quem tinha muito pra expor. não vimos. não veremos. mas há o que ler.

. . . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   .   

vacilo da vocação 

Precisaria trabalhar — afundar — 
— como você — saudades loucas
 — nesta arte — ininterrupta 
— de pintar
— A poesia não — telegráfica — ocasional 
— me deixa sola — solta 
— à mercê do impossível —
— do real. 

. . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .   .

vestibular 2019, aqui no sudeste.
saber mais ?

assista-me!