no livro "conto da ilha desconhecida" (saramago), um homem
pede um barco ao rei mas, em princípio, não sabe aonde vai. quer chegar a uma
ilha que ninguém conhece. será caminho difícil, pois terá de passar por si próprio.
dante, na "divina comédia", acaba se perdendo, numa floresta e
precisa de ajuda... ele também desconhece o caminho a percorrer... vai
ser difícil, pois enfrentará só o inferno.
um homem do campo, no conto "a terceira margem do rio" (rosa) expõe a mesma sensação de perda e desconstrução: ele faz um pequeno barco e, sozinho, sai, rio acima, abaixo, num ritmo só seu, adentro, para sempre. vai ser caminho
difícil... -- ou o que esse homem passava estava difícil, a gente só imagina.
olhem, pouca gente sai do trilho da razão para seguir um instinto próprio. dizem que ser humano seria sociável, e rousseau, lá no século 18... ah, esquece.
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024
o caminho difícil
terça-feira, 1 de fevereiro de 2022
nota social - carlos drummond
NOTA SOCIAL
O poeta chega na estação.
O poeta desembarca.
O poeta toma um auto.
O poeta vai para o hotel.
E enquanto ele faz isso
como qualquer homem da terra,
uma ovação o persegue
feito vaia.
Bandeirolas
abrem alas.
Bandas de música. Foguetes.
Discursos. Povo de chapéu de palha.
Máquinas fotográficas assestadas.
Automóveis imóveis.
Bravos…
O poeta está melancólico.
Numa árvore do passeio público
(melhoramento da atual administração)
árvore gorda, prisioneira
de anúncios coloridos,
árvore banal, árvore que ninguém vê
canta uma cigarra.
Canta uma cigarra que ninguém ouve
um hino que ninguém aplaude.
Canta, no sol danado.
O poeta entra no elevador
o poeta sobe
o poeta fecha-se no quarto.
O poeta está melancólico.
[ drummond, alguma poesia, 1930 ]
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* "assestadas" - - apontadas
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"nota social" faz referência a uma parte do jornal dedicada a personalidades tidas como importantes, na cidade, algo muito comum no século 20
aqui, no poema, o eu lírico expõe que não há espaço para suavidades.
a árvore e a cigarra são desprezadas pelo progresso (anúncios). no cotidiano, há os automóveis, barulho de câmeras fotográficas. o poeta está melancólico. mesmo a agitação das pessoas com sua chegada parece vaia, ou seja, quem exercita o simples, a subjetividade, a poesia, não teria espaço.
o mundo está agitado. lembre-se: a obra foi feita no final dos anos 1920 e publicada em 1930. a melancolia do poeta se deve às crises, tanto na política brasileira, como nas consequências do "crack" da bolsa de nova iorque, em 1929.
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
pucc - redação - vestibular 2018 - desigualdade social
a pontifícia universidade católica de campinas, puccamp, neste 21 de outubro, propôs a(os) vestibulandos(as) duas propostas: uma, tratando da desigualdade social, trazia um texto relativamente longo, artigo de oscar vilhena, para "folha de s paulo, setembro de 2017, do qual destaco esses trechos:
"A desigualdade não é um acidente na história de uma sociedade, mas sim fruto de deliberadas escolhas políticas e institucionais que favorecem a concentração de renda, bens e benefícios públicos. A situação crítica de muitas regiões brasileiras deveria deixar claro que, quando a desigualdade é profunda e persistente, ela compromete fortemente o devido funcionamento das instituições e a própria coesão social. Apesar dos esforços de distribuição de riqueza por intermédio do acesso à educação, saúde, saneamento básico e mesmo assistência social, articulados pela Constituição de 1988, o Brasil não se tornou um país mais justo nas últimas décadas. (...) Os indicadores sociais apontam para uma relativa melhoria das condições de vida dos mais pobres propiciada pela estratégia social democrata adotada em 1988, mas mesmo a redução da pobreza não redundou numa significativa redução da desigualdade. (...)
O problema é que esse padrão de abissal desigualdade institucionalmente entrincheirado corrói o tecido social e perverte o modo como as instituições republicanas funcionam. De um lado a desigualdade inibe a construção de relações de reciprocidade, dificultando que as pessoas vejam a si, e aos demais, como merecedores de igual respeito e consideração. A exclusão e os privilégios, e não verdadeiros direitos, passam a determinar as relações sociais.(...) De outro lado, o enorme desequilíbrio de poder dentro da sociedade, decorrente da extrema desigualdade, também impacta de outro modo: setores influentes da sociedade extraem benefícios inaceitáveis do poder público, enquanto os mais pobres, especialmente quando vistos como ameaça, recebem das instituições tratamento inversamente proporcional: a regra é o descaso, o arbítrio, a violência. O resultado de tudo isso é uma imensa e crescente desconfiança nas instituições. A saída dessa crise mais profunda, gerada pela naturalização da desigualdade, dependerá da construção de um novo projeto de nação."
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o pedido da prova era um texto argumentativo.
coloquei aqui itens que o vestibulando poderia ter desenvolvido.
primeiro : criar sua tese (ideia sobre o tema)
tese possível : combater a desigualdade fortalecendo as instituições
argumento 1 : instituições como poder legislativo, executivo, judiciário, educação ou arte (cultura) quando sustentadas pela ética e voltadas ao bem comum produzem cidadãos que respeitam a democracia
argumento 2 : a educação é a principal instituição que pode fazer com que a desconfiança na sociedade civil diminua, pois valorizar o trabalho coletivo, a pesquisa e o conhecimento são base para harmonia e progresso.
conclusão : (reafirmar a tese) o fortalecimento das instituições pode combater a desigualdade social