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quarta-feira, 1 de setembro de 2021

dona tareja - fernando pessoa

 

                                                       [ do site - quebichotemordeu.com ]

    D. TAREJA

   As nações todas são mistérios.

   Cada uma é todo o mundo a sós.

   Ó mãe de reis e avó de impérios.

   Vela por nós!

   Teu seio augusto amamentou

   Com bruta e natural certeza

   O que, imprevisto, Deus fadou.

   Por ele reza!

   Dê tua prece outro destino

   A quem fadou o instinto teu!

   O homem que foi o teu menino

   Envelheceu.

   Mas todo vivo é eterno infante

   Onde estás e não há o dia.

   No antigo seio, vigilante,

   De novo o cria!

      [ Pessoa, Fernando. Mensagem, 1934 ]

dona tareja é mãe de afonso henriques, o primeiro rei de portugal independente. no século 12, perdeu a batalha de são mamede para o próprio filho, numa disputa de poder. 

aqui, no texto, o eu lírico eleva sua condição humana a uma figura divinizada pois que teria parido um rei. daí, na primeira estrofe, lemos "mãe de reis e avó de impérios".
o "mundo a sós" indica um mistério ainda a ser executado, ainda a ser conhecido. sabendo de todo contexto que cerca o livro, este mistério seria o grande império luso, formado anos depois do reinado de afonso.



sábado, 14 de agosto de 2021

o conde dom henrique - fernando pessoa - os castelos

 

                               
          jangada de pedra, jerônimos, lisboa - portugal
                                  [ foto c.h. carneiro ]

 
   O CONDE D. HENRIQUE

  Todo começo é involuntário.

  Deus é o agente,

  O herói a si assiste, vário

  E inconsciente.

  À espada em tuas mãos achada

  Teu olhar desce.

  «Que farei eu com esta espada?»

  Ergueste-a, e fez-se.


    [ in: Mensagem, 1934, Fernando Pessoa ]


  - notas -

conde d. henrique (1057-1114) - nobre militar, alistado no exército de afonso VI

 (leão e castela) para combater mouros; casou com tareja, filha do rei e tornou-se

 governador do condado portucalense, em 1093

o condado  seria o núcleo do país independente, sob comando do filho de henrique e

 tareja: afonso henriques

. . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   .    .


- henrique parece agir sob comando de uma energia maior: "fez-se", é

o que se lê no fim, assim como "deus é o agente", verso 2

- o conde é o embrião do país, como se vê na história e o poema denota

 que, sem saber o que fazer com o poder (espada), apenas a ergueu e isso

 foi o bastante

- a razão pela qual fatos acontecem pode escapar do entendimento: isso

 é uma tônica no livro "mensagem" como um todo

-  homem seria instrumento de algo maior





terça-feira, 25 de maio de 2021

padrão - fernando pessoa

 

                                      [ exemplo de um padrão de diogo cão - cópia ]

   Padrão

O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.

E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar.
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar
.   
                                                        [ Mensagem, F Pessoa, 1934 ]

poema que se inclui na segunda parte do livro "mensagem" -- nomeada "mar português".
quem fala é diogo cão, navegador que primeiro chegou ao litoral africano do congo (1482-84) e criou esse tipo de marco, um padrão, ou seja, elemento físico da marca das invasões portuguesas (muita gente chama de "expansão"). o trabalho de cão é base para o que iria fazer vasco da gama, em 1498.

a cruz é a referência ao destino luso da navegação, ou seja, um ser divino tornou possível aos portugueses as viagens e, consequentmente, o aumento do império. vale sempre reforçar que a cruz também pode ser referência aos templários: ordem da qual faziam parte tanto vasco como pessoa, por exemplo.
"alma imperfeita", verso 1, mostra que cabe ao homem, segundo este e outros poemas, sonhar com uma vida plena, perfeita, ou seja, com domínio sobre as terras, formando quinto império. insisto: no texto, sonhar é possível...realizar, só com deus.

"mensagem" faz referência a fatos históricos da vida portuguesa, daí sua proximidade com "os lusíadas", de camões. contudo, os poemas de pessoa apresentam uma abrangência tal que, sozinhos, não dão ao leitor clareza didática a respeito do momento histórico tratado neste ou naquele poema. é necessário, então, conhecimento mínimo prévio de eventos da história portuguesa.

veja nosso vídeo sobre livro "mensagem", aqui, para ajudar melhor.



sábado, 17 de abril de 2021

antônio vieira - poema de fernando pessoa

 


ANTÔNIO VIEIRA

O céu estrela o azul e tem grandeza

Este, que teve a fama e a glória tem

Imperador da língua portuguesa

Foi-nos um céu também

No imenso espaço seu de meditar

Constelado de forma e de visão

Surge, prenúncio claro do luar

El-Rei D. Sebastião

Mas não, não é luar: é luz do etéreo

É um dia; e, no céu amplo de desejo

A madrugada irreal do Quinto Império

Doira as margens do Tejo


  Fernando Pessoa - - Mensagem [terceira parte: "o encoberto"]


poeta sonha com uma nação grandiosa. o momento da publicação é a

primeira metade do século 20.


"quinto império": intepretação do sonho do  rei nabucodonosor 

(babilônia / assíria) quando um quinto império sucederia  os outros

quatro: grécia, pérsia, cristandade, roma

na visão de padre vieira (séc 17) e pessoa (séc 20) este império seria

português 


a nação portuguesa seria pujante novamente quando do retorno de dom

sebastião: na verdade, retorno do que ele simbolizava, ou seja, um

império grandioso e dominador. 

. . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .   .   .    .    .


saiba mais sobre o livro de pessoa:


             




domingo, 28 de fevereiro de 2021

mensagem - fernando pessoa - comentário

                                    

me n s a g e m  -  fernando pessoa - portugal

livro publicado em 1934

44 poemas

"mensagem" contém misticismo, lirismo, caráter histórico e ... melhor clicar no vídeo aqui :



terça-feira, 9 de junho de 2020

mensagem - fernando pessoa



                                       nazaré - portugal - foto do blog

livro contendo 44 poemas de caráter nacionalista, místico e histórico

mensagem é obra de fernando pessoa (ele-mesmo) - ortônimo

título original seria "portugal".
poeta alterou, mas manteve, no novo nome, o mesmo número de letras.

a mensagem, em si, pede que o país cresça e reassuma um espaço de protagonismo, como se viu entre os séculos 15 e 16


O INFANTE
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

Pessoa - Mensagem 1934

"infante" é aquele que há de ser -- filho de reis mas não diretamente ligado ao trono. o texto, como se sabe, é dedicado a dom henrique, morto em 1460

o texto faz referência á rotunda forma do planeta, uma então novidade, no tempo deste infante. a mágoa reinante no desfecho é similar à que se lê em "mar português", mas bem menos contundente
aqui, neste "infante" parece que a vontade de deus ou o sonho humano se esfarelou. o mar está, deus é, mas portugal carece de bom destino

o fim do império luso, reza a lenda, teria começado com o sumiço de dom sebastião, 1578

como um todo, o livro "mensagem" possui três partes : O Brasão, Mar Português e O Encoberto

messianismo, nacionalismo, sebastianismo, tudo isso em versos que apresentam lirismo sem exageros ... e apontam para história passada do país.

vale a pena!
clique abaixo para saber mais!




sexta-feira, 3 de novembro de 2017

o infante - fernando pessoa




        O INFANTE
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma.
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

        F Pessoa - Mensagem 1934

. . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   .    .
o poema pertence ao livro "mensagem", originariamente concebido com
o nome "portugal", depois modificado para o que conhecemos hoje. 
participa, o livro todo, de um concurso oferecido pelo governo luso mas
não chega a vencer. a mudança se deu a conselho do amigo cunha dias
que achava o nome jáum pouco vulgarizado, gasto, na época. 
pessoa concordou. "mensagem", de propósito, foi nome escolhido por
ter o mesmo número de letras.
 livro, como um todo, traz relações com o épico de camões,"os
lusíadas", porquehistórico e por  vezes narrativo. contudo sobram
lirismo e caráter reflexivo, marcas impressionistas e até clássicas
(soneto), neste conjunto que, no mínimo se equipara à grandiosidade
 de obras como as de  camões.
"infante" é aquele que há de ser. filho de reis mas não diretamente ligado
ao trono. o texto é dedicado a dom henrique, morto em 1460. 
ele faz referência à rotunda forma do planeta.
a mágoa reinante no desfecho é similar à que se lê em "mar português",
mas bem menos contundente. 
aqui, neste "infante" parece que a vontade de deus ou o sonho  humano
se esfarelou. o mar está, deus é, mas portugal carece de bom destino.
o fim do império luso, reza a lenda, teria começado com o sumiço de
dom sebastião, 1578. não por acaso, nome de um dos poemas deste
"mensagem".
. . . . . . . . . .  .  .  .  .  .   .
saber mais ? assista-me! compartilhe!