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quinta-feira, 28 de abril de 2022

descreve a ilha de itaparica com sua aprazível feritilidade - gregório de matos

 


DESCREVE A ILHA DE ITAPARICA COM SUA APRAZÍVEL FERTILIDADE, LOUVA DE CAMINHO O CAPITÃO LUÍS CARNEIRO,HOMEM HONRADO E LIBERAL, EM CUJA CASA SE HOSPEDOU

Ilha de Itaparica, alvas areias, Alegres praias, frescas, deleitosas, Ricos polvos, lagostas deliciosas, Farta de Putas, rica de baleias. As Putas, tais ou quais, não são más preias, Pícaras, ledas, brandas, carinhosas, Para o jantar as carnes saborosas, O pescado excelente para as ceias. O melão de ouro, a fresca melancia, Que vem no tempo, em que aos mortais abrasa O sol inquisidor de tanto oiteiro. A costa, que o imita na ardentia, E sobretudo a rica e nobre casa Do nosso Capitão Luís Carneiro.

Gregório de Matos - séc 17 - Poemas escolhidos, Cultrix

notas --  "pícaras" - ardilosas, astutas 
                  "preias"  -  presas
                  "ardentia" - calor intenso
                  "oiteiro" - pequeno morro com vegetação

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poeta lista as características aprazíveis da praia de itaparica e, nela estão elementos de culinária, assim como pessoas. tratamento dado às mulheres é o pior possível. no século 17 era aceitável. na descrição dos prazeres, o termo "carnes", na segunda estrofe, ganha conotação dúbia: pode ser o pescado, pode ser gente. nessa linha, "melão" e "melancia" tornam-se metáforas de de partes do corpo das mulhres. tudo isso torna a úlitma estrofe bem sarcástica, uma vez que o dono dessa farra toda é o "nobre" e "nosso" capitão luís.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

"sete anos de pastor jacob servia" confirma lado antropocêntrico do renascimento

                               

                                    [ largo camões - lisboa, portugal ]

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando se com vê la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
lhe fora assi negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida;

começa de servir outros sete anos,
dizendo: - Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida!

[Camões, Luís de. Obra completa, Aguilar ed, 1988]

- - primeira publicação 1595 - - livro "Rimas" - edição póstuma

nota - - sete é número místico para os cristãos e envolvia, por exemplo, quantidade de pecados capitais; e também a de planetas, até então, conhecidos... mas na mitologia cristã, foi o tempo total que deus gastou para fazer o mundo... 

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falo com meus alunos sobre a lírica de camões e sempre se esbarra neste soneto emblemático. 

é comum afirmar-se, quase como um mantra, que o período renascentista é mais antropocêntrico que teocêntrico. e é. mesmo que você veja o davi e a pietá de michelângelo, ou madonas e são joão batista em leonardo, ou mesmo o velho testamento católico em camões, é sim mais antropocêntrico o período renascentista. por quê? porque esses elementos citados aqui estão humanizados, tratados com perfil mundano comum. aqui, jacob é mostrado com alguem que sofre e busca completar sua humanidade através do amor. a medida para compor perfil de jacob ou são joão batista ou davi, por exemplo, é o homem da época. simples assim. 


terça-feira, 22 de dezembro de 2020

ao bom governador antônio luís - soneto caudático - gregório

 


AO BOM GOVERNADOR ANTÔNIO LUÍS *

[ soneto caudático ]

O Apolo, de ouro fino coroado:
O Marte, em um Adônis desmentido;
O Fênix, entre aromas renascido;
O cisne, em doces cláusulas banhando:

O abril, de mil galas matizado;
O maio, de mil cores guarnecido;
O Parnaso, de plectros aplaudido;
E o Sol, de ambos os mundos venerado:

O prodígio maior, que tudo o clama,
O assunto melhor da fama digno;
Do tronco mais ilustre a melhor rama:

O herói celestial, quase divino,
O maior que o seu nome, e a sua fama;
É esse que estás vendo, oh peregrino.

Prossegue pois agora o teu destino;
E a qualquer de que fores perguntado,
Dirás que o bom governo é já chegado

  GREGÓRIO DE MATOS E GUERRA

*  antônio luís menezes - governou de 1684 a 87 [prestou assistência ao povo doente]

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- apesar dos elementos da mitologia grega (apolo, marte etc), há uma referência à cristandade, na expressão "oh, peregrino"
- o eu lírico chama atenção do peregrino para que adore a figura do governador

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soneto caudático - - acrescentou-se mais uma estrofe que retoma o esquema de rimas do início