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terça-feira, 6 de julho de 2021

a iara - olavo bilac - soneto comentado

                                                    

     A  I A R A     [ Olavo Bilac ]

 Vive dentro de mim, como num rio, 
 Uma linda mulher, esquiva e rara, 
 Num borbulhar de argênteos flocos, Iara 
 De cabeleira de ouro e corpo frio. 
 Entre as ninfeias a namoro e espio:
 E ela, do espelho móbil da onda clara,
 Com os verdes olhos úmidos me encara,
 E oferece-me o seio alvo e macio. 
 Precipito-me, no ímpeto de esposo, 
 Na desesperação da glória suma, 
 Para a estreitar, louco de orgulho e gozo... 
 Mas nos meus braços a ilusão se esfuma:
 E a mãe-d’água, exalando um ai piedoso,
 Desfaz-se em mortas pérolas de espuma.

        [ in: Tarde, 1919 ]

notas - -
- iara: ser mitológico metade peixe, metade mulher, com feições indígenas é também conhecida no folclore brasileiro como mãe-d'água e, segundo lenda, atrai homens para o fundo do rio... quem consegue espcapar acaba ficando louco

- ninfeia: espécie de planta aquática

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- poeta, feito um narciso tupiniquim, vê na água o reflexo da deusa iara... na verdade, pode estar olhando para si mesmo, como se vê no verso 1

- ela parece oferecer seu corpo a ele
- ou eu lírico precipita-se então para agarrá-la com "ímpetos de esposo", ou seja, desejo sexual.
- iara o engana, deixando o poeta apenas molhado das águas do rio 

- cheia de ironia -- talvez pena -- a mãe d´água solta um "ai", no final

- texto metrificado, segundo a lógica do parnasianismo: verso decassílabo
- há indício de loucura no poeta, logo no verso 1, quando afirma que a deusa do rio vive dentro de si, ou seja, o que ele vê, na água, seria seu próprio reflexo
- na verdade, versão tradicional do mito indígena é esquecida: iara, aqui no texto, é loira (cabelos "de ouro") -- poeta deve estar maluco mesmo...

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