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terça-feira, 5 de abril de 2022

charlie brown e a resenha de "guerra e paz"

 


vi "peanuts movie" - snoopy e charlie brown -, de 2015. 
longa metragem de quase 80 minutos.

charlie brown vê a nova garota da sala de aula, por sinal, sua recém-chegada vizinha, e se apaixona. contudo, o garoto morre de vergonha de se aproximar dela. hesita várias vezes. desastrado, não consegue soltar pipa, muito menos é bom aluno. vive desacreditando de si próprio. 
é snoopy quem poderá ajudá-lo -- ou não -- a ser reconhecido por ela.
o drama nem é profundo, coisas do mundo infantil. mas ver uma figurinha que desabafa com seu cão sobre seus fracassos e medos é algo bem comovente.
numa certa altura, diz ele que um cão não julga, simplesmente ama. 
ponto alto da história é a decisão que charlie toma diante da necessidade de se mostrar bom aluno e resolve fazer resenha de "guerra e paz", do tolstoi. é comovente tudo. e hilário.
charlie brown precisa ser reconhecido por si mesmo, daí poder fazer algum movimento de conquista. não precisa ser melhor que ninguém.


segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

qual mentira vou acreditar - racionais mc's



QUAL MENTIRA VOU ACREDITAR 
Racionais Mc's

São apenas dez e meia tem a noite inteira, dormir é embaçado numa sexta-feira.
Tv é uma merda prefiro ver a lua, Preto Edi Rock está a caminho da rua.
Hã, sei lá vou pr'uma festa se pam,
Se os cara não colar volto às três da manhã.
Tô devagar, tô a cinquenta por hora,
Ouvindo funk do bom minha trilha sonora.
A polícia cresce o olho, eu quero que se foda,
Zona norte a bandidagem curte a noite toda.
Eu me formei suspeito profissional,
Bacharel pós-graduado em tomar geral.
Eu tenho um manual com os lugares horários,
De como dar perdido, ai caralho...
Prefixo da placa é My sentido Jaçanã, Jardim Hebron.
Quem é preto como eu, já tá ligado qual é, nota fiscal Rg polícia no pé.
Escuta aqui o primo do cunhado do meu genro é mestiço,
Racismo não existe, comigo não tem disso,
É pra sua segurança.
Falou, falou... Deixa pra lá.
Vou escolher em qual mentira vou acreditar.

Tem que saber curtir, tem que saber lidar.
Em qual mentira vou acreditar?
A noite é assim mesmo então, deixa rolar.
Em qual mentira vou acreditar.
Tem que saber curtir, tem que saber lidar.
Em qual mentira vou acreditar?

Ôh, que caras chato ó,
Quinze pras onze eu nem fui muito longe
E os home embaçou.
Revirou os banco, amassou meu boné branco,
Sujou minha camisa do Santos.
Eu nem me lembro mais pra onde eu vou,
Hii quem será que ligo?
Espere na estação eu tô na zona sul,
Eu chego rapidinho assinado: Blue.
Pode crer, naquele lado de Santana
Conheço uns lugar, conheço umas fulana.
Juliana? Não. Mariana? Não. Alessandra? Não. Adriana? Não.
O nome é só um detalhe, o nome é só um nome.
953 hum... Esqueci o telefone.
Porra demorou, hein!
E aí, Blue como é que é?
Isso aqui é inferno, tem uma pá de mulher.
Trombei uma pá, de gente uma pá de mano,(pode crer)
Tô há quase uma hora te esperando.
Passou uma figura aqui e deu ideia,
Disse que te conhece, se pá chama Léa. (Eu)
Cabelo solto vestido vermelho,
Estrategicamente a um palmo do joelho. (Hummm...)
Os caras comentaram o visual, oh os bico que tal? Pagando o mó pau.
Ninguém falou um ah, ah mas eu ouvia,
Meio mundo xingando por telepatia. (Filha da puta)
Economizava meu vocabulário,
Não tinha o que falar, falava o necessário.
Meio assim, é claro será qual é que é truta?
Aqui não falta mina filha da puta.
Tudo comigo, confio no meu taco,
Versão africana Don Juan Demarco.
Tudo muito bom, tudo muito bem,
Sei lá o que é que tem, ideia vai ideia vem.
Ela era princesa eu era o plebeu,
Quem é mais foda que eu? Espelho espelho meu?
Tipo Thaís de Araújo ou Camila Pitanga?
Uma mistura, confesso, fiquei de perna bamba.
Será que ela aceita ir comigo pro baile?
Ou ir pra zona sul ter um grand finale?
Amor com gosto de gueto até às seis da manhã,
Me chamar de meu preto e me cantar Djavan.
Ninguém ouviu, mas puta que pariu.
Em fração de segundos meu castelo caiu,
A mais bonita da escola rainha passista,
Se transformou numa vaca nazista.
Eu ouvindo James Brown, pá... Cheio de pose.
Ela pergunta se eu tenho, o quê? Guns N' Roses?
Lógico que não! A mina quase histérica
Meteu a mão no rádio e pôs na transamérica.
Como é que ela falou? Só se liga nessa,
Que mina cabulosa olha só que conversa.
Que tinha bronca de neguinho de salão, (não)
Que a maioria é maloqueiro e ladrão. (aí não)
Aí não mano! Foi por pouco,
Eu já tava pensando em capotar no soco.
Disse pra "mim" não falar gíria com ela,(pode crer)
Pra me lembrar que não tô na favela.
Bate-boca mó guela será que é meia-noite, já?
A cinderela virou bruxa do mal?
Me humilhar não vai, vai tirar o caraí,
Levanta o seu rabo racista e sai.
Eu conheço essa perversa há mó cara,
Correu a banca toda de uns playba
Que cola lá na área.
Pra mim ela já disse que era solitária,
Que a família era rígida e autoritária.
Tem vergonha de tudo cheia de complexo,
Que ainda era cedo pra pensar em sexo.
A noite é assim mesmo, então deixa rolar,
Vou escolher em qual mentira vou acreditar.
Tem que saber curtir, tem que saber lidar,
Em qual mentira vou acreditar.
A noite é assim mesmo, então deixa rolar,
Em qual mentira vou acreditar.
Tem que saber curtir, tem que saber lidar.
Em qual mentira vou acreditar?
Ih caralho, olha só quem tá ali?
O que que esse mano tá fazendo aqui?
Aí esse maluco veio agora comigo,
Ligou que era até seu amigo.
Morava lá na sul, irmão da Cristiane,
Dei um cavalo pra ele no lausane.
Ia levar um recado pra uns parente local,
Da Igreja Evangélica Pentecostal.
Desceu do carro acenando a mão, (na paz do senhor!)
Ninguém dava atenção.
Bem diferente do estilo dos crentes,
Um bombojaco e touca mas a noite tá quente.
Que barato estranho, só aqui tá escuro,
Justo nesse poste não tem luz de mercúrio.
Passaram vinte fiéis até agora,
Dá cinco reais, cumprimenta e sai fora.
Um irmão muito sério em frente à garagem,
Outro com a mão na cintura em cima da laje.
De vez em quando a porta abre e um diz:
"Tem do preto e do branco!" E coça o nariz.
Isso sim, isso é que é união,
O irmão saiu feliz sem discriminação.
De lá pra cá veio gritando rezando,
"Aleluia, as coisas tão melhorando!"
Esse cara é dentista, sei lá... Diz
Que a firma dele chama Boca S/A.
Será material de construção?
Vendedor de pedras? Lá na zona sul era patrão.
Ih! Patrão o caralho! Ele é safado,
Fugiu do Valo Velho com os dias contados. (Tava desconfiando...)
Na paranoia de fumar era fatal,
Arrombava os barracos saqueava os varal. (Demorô)
Bateu na cara do pai de um vagabundo,
Humm... Tá fazendo hora extra no mundo.
A noite tá boa a noite tá de barato,
Mas puta gambé pilantra é mato.

Tem que saber curtir, tem que saber lidar.
Em qual mentira vou acreditar?
A noite é assim mesmo, então deixa rolar.
Qual mentira vou acreditar?

         [ sobrevivendo no inferno, racionais mc's ]

- letra com caráter de crônica e relato pessoal
- rotina de passeio noturno, carro, camisa de time de futebol, contato com parceiros, procura uma mulher

- o eu lírico acaba se vendo numa armadilha, pois a garota era racista

- em seguida, uma boca de fumo, ponto de droga, pó, liderados por evangélicos
"tem que saber lidar"
- canção traz várias situações contraditórias: policial revista o negro, diz que é para a própria segurança da pessoa, mas é o racismo institucional; moça bonita mas racista; cidadão se mostra religioso mas é traficante ...

quando se lê "a noite é assim mesmo" , pode-se entender "a vida dos negros e brancos é assim" ... a questão não é aceitar, é só um relato triste



sexta-feira, 15 de junho de 2018

fórmula mágica da paz - racionais - redação vestibular



proposta de análise e produção de texto
música do álbum "sobrevivendo no inferno" - racionais mc's - unicamp vestibular

  fórmula mágica da paz
         [ trechos ]

essa porra é um campo minado. 
quantas vezes eu pensei em me jogar daqui, 
mas, aí, minha área é tudo o que eu tenho
a minha vida é aqui e eu não consigo sair
é muito fácil fugir mas eu não vou. 
não vou trair quem eu fui, quem eu sou. 
eu gosto de onde eu vou e de onde eu vim,
ensinamento da favela foi muito bom pra mim. 
cada lugar um lugar, cada lugar uma lei, 
cada lei uma razão e eu sempre respeitei,
em qualquer jurisdição, qualquer área
jardim santo eduardo, grajaú, missionária
funxal, pedreira e tal, joaniza.
eu tento adivinhar o  que você mais precisa
levantar sua "goma" ou comprar uns "pano"
um  advogado pra tirar seu mano
no dia da visita você diz 
que eu vou mandar cigarro pros maluco lá no x
então, como eu tava dizendo, sangue bom,
isso não é sermão, ouve aí:  tenho o dom.
eu sei como é que é, é foda parceiro
a maldade na cabeça o dia inteiro
(...)
ninguém é mais que ninguém, absolutamente, 
aqui quem fala é mais um  sobrevivente
eu era só um moleque, só pensava em dançar, 
cabelo black e tênis all star 
na roda da função "mó zoeira!
tomando vinho seco em voltada fogueira. 
a noite inteira, só contando história, sobre o crime, 
sobre as treta na escola. 
não tava nem aí, nem levava nada a sério.
admirava os ladrão e os malandro mais velho. 
mas se liga, olhe ao seu redor eme diga: o que melhorou?
da função quem sobrou? sei lá, 
muito velório rolou de lá pra cá, 
qual a próxima mãe que vai chorar?  
(...)
onti eu sonhei que um fulano aproximou de mim,
"agora eu  quero ver ladrão, pá! pá! pá! pá!", fim. 
é... sonho é sonho, deixa quieto. 
sexto sentido é um dom, eu tô esperto. 
morrer é um fator, mas conforme for, 
tem no bolso e na agulha e mais cinco no tambor
joga o jogo, vamo lá, caiu a oito eu mato a par
eu não preciso de muito pra sentir-me capaz de encontrar
a fórmula mágica da paz 
eu vou procurar, sei que vou encontrar, eu vou procurar,
eu vou procurar, você não bota uma fé, mas eu vou atrás
(eu vou procurar e sei que vou encontrar) da minha fórmula mágica da paz
(...)
hoje tá da hora o esquema pra sair, é... 
vamo, não demora, mano, chega aí! "cê viu ontem? os tiro ouvi de monte!
 então, diz que tem uma pá de sangue no campão.
ih, mano toda mão é sempre a mesma ideia junto: 
treta, tiro, sangue, aí, muda de assunto. 
traz a fita pra eu ouvir porque eu tô sem,
principalmente aquela lá do jorge ben
uma pá de mano preso chora a solidão. 
uma pá de mano solto sem disposição. 
empenhorando por aí, rádio, tênis, calça, 
acende num cachimbo... virou fumaça!

(...)
choro e correria no saguão do hospital. 
dia das criança, feriado e luto final.
sangue e agonia entra pelo corredor. 
ele tá vivo! pelo amor de deus doutor! 
quatro tiros do pescoço pra cima, 
puta que pariu a chance é mínima! 
aqui fora, revolta e dor, lá dentro estado desesperador! 
eu percebi quem eu sou realmente, 
quando eu ouvi o meu sub-consciente: "e aí mano brown cuzão? cadê você
seu mano tá morrendo o que você vai fazer?"
pode crê, eu me senti inútil, eu me senti pequeno,
mais um cuzão vingativo (mais um). 
puta desespero, não dá pra acreditar, que pesadelo
(...)
dali a poucos minutos, mais uma dona maria de luto! 
na parede o sinal da cruz, que porra é essa? 
que mundo é esse ? onde tá jesus ? 
mais uma vez um emissário 
não incluiu capão redondo em seu itinerário. 
pôrra, eu tô confuso, preciso pensar. 
me dá um tempo pra eu raciocinar 
eu já não sei distinguir quem tá errado, sei lá, 
minha ideologia enfraqueceu 
preto, branco, polícia, ladrão ou eu 
quem é mais filha da puta, eu não sei! aí fudeu, fudeu, 
decepção essas hora... a depressão quer me pegar vou sair fora
2 de novembro era finados
eu parei em frente ao são luis do outro lado e durante uma meia hora olhei um por um 
e o que todas as senhoras tinham em comum:
a roupa humilde, a pele escura, o rosto abatido pela vida dura. 
colocando flores sobre a sepultura. 
("podia ser a minha mãe") que loucura
cada lugar uma lei, eu tô ligado, 
no extremo sul da zona sul tá tudo errado, 
aqui vale muito pouco a sua vida, 
a nossa lei é falha, violenta e suicida
(...)
legal, assustador é quando se descobre 
que tudo dá em nada e que só morre o pobre 
a gente vive se matando irmão, por quê? 
não me olhe assim, eu sou igual a você
descanse o seu gatilho, descanse o seu gatilho, 
que no trem da malandragem, o meu rap é o trilho.
(...)
se liga! procure a sua paz!!
você não bota uma fé....
(agradeço a deus e aos orixás) 
aqui quem fala é mano brown, mais um sobrevivente agradeço a deus, agradeço a deus....e aos orixás
27 ano, contrariando a estatística morô meu!
procure a sua paz.... (eu vou procurar e sei que vou encontrar) 
procure a sua! 
eu vou encontrar! 
você pode encontrar a sua paz, o seu paraíso!
eu vou procurar... você pode encontrar o seu inferno!
(eu vou procurar e sei que vou encontrar) 
eu prefiro a paz ! 
. . . . . . . . . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   .    .

CONSIDERAÇÕES

  • música que se aproxima da crônica argumentativa e do relato pessoal
  • aqui, feita em verso, o que ressalta o caráter lírico do texto
  • influência do ritmo soul norteamericano de marvin gaye 
  • é o cotidiano da favela e seu entorno
  • morte, descompromisso, falta consciência da realidade da favela
  • irmãos desunidos
  • um recado político e social aos jovens

ao mesmo tempo que se critica a crença cega na religião :
"na parede o sinal da cruz, que porra é essa? que mundo é esse? onde tá jesus? 
mais uma vez um emissário não incluiu capão redondo em seu itinerário"

*capão redondo bairro da periferia de s paulo: no séc 20, considerado um dos mais violentos do país

é possível ver também a reverência aos mitos cristão e afro :
"agradeço a deus e aos orixás"

separar realidade do misticismo é uma tônica nesse álbum "sobrevivendo no inferno"
mais de uma vez clama-se por deus para agradecer algum sobrevivente... assim como fala-se com ironia da ausência de deus (ou jesus) na favela, quando morre algum jovem
  • a fórmula mágica da paz é a união dos jovens e adultos da periferia, da favela
  • a lei não é feita para os negros ou pobres, é preciso união
  • linguagem mistura norma padrão e o coloquial

o contexto histórico da década de 1990 -- quando a música é gravada, no álbum
"sobrevivendo no inferno" era algo assim:

  • impeachment do presidente collor
  • chacina da candelária (rio de janeiro)
  • chacina de acari (rio de janeiro)
  • chacina do carandiru (são paulo)
  • chacina de eldorado de carajás (pará)
  • criminalização da pobreza
  • iniciam-se programas na mídia destacando violência nas perferias
  • inflação em 1991 : 1.470% 
  • inflação em 1993 : 2.780%
  • inflação em 1994 : 1.090%
  • mesmo com plano "real", inflação média na década de 1990 foi de 500% ao ano


. . . . . . . . . . . . . .  .  .  .  .  .  .  .   .   .   .

PRODUZIR TEXTO ARGUMENTATIVO COM O TEMA
"a paz e a guerra são antagônicos, na periferia?"

lembre-se!

ESTRUTURA:

tese 
argumentos
conclusão

. . . . . . . . . . .  .  .  .  .  .   .   .    .
saiba mais:


´formula mágica da paz'
assista!