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domingo, 13 de março de 2022

ninguém viverá nossa dor

 


                                                                           [ laerte ]

ninguém viverá nossa dor. 
ninguém.

difícil essa constatação.  mas é real.
achar motivação para continuar combatendo os males não só da idade que avança, mas do contexto social do brasil de hoje é árduo. parece que o fim não vai chegar com alguma tranquilidade.
violência contra natureza, contra muher, o racismo, a homofobia, os negacionistas antivacina... é muita tristeza!
depressão, pré-diabetes, pressão alta, iminência de catarata, ansiedade e fã da ponte preta são alguns motivos para dormir mal quase sempre.
durante um tempo achei que poderia ter algum acolhimento, poderia ter reconhecimento por esse ou aquele avanço em algum setor da vida, mas é ilusão. cada um tem sua via ápia pra seguir. cada um tem seu amazonas por remar. daí sobra qual tempo ou vontade pra acolher o outro?... 
ninguém viverá nossa dor.
saber disso não ajuda meu estado, mas deixa claro o que esperar do dia seguinte.


domingo, 6 de junho de 2021

diziam que - olavo bilac - tarde

 

Diziam que, entre as nações sobreditas, moravam algumas monstruosas. Uma é de anãos, de estatura tão pequena, que parecem afronta dos homens chamados Goiasis. Outra é de casta de gente, que nasce com os pés às avessas, de maneira que quem houver de seguir seu caminho Há de andar ao revés do que vão mostrando as pisadas; chamam-se Matuiús. Outra é de homens gigantes, de dezesseis palmos de alto, adornados de pedaços de ouro por beiços e narizes, e aos quais todos os outros pagam respeito; têm por nome Curinqueãs. Finalmente que há outra nação de mulheres, também monstruosas no modo do viver (são as que hoje chamamos Amazonas, e de que tomou o nome o rio) porque são guerreiras, que vivem por si só sem comércio de homens; vivem entre grandes montanhas; são mulheres de valor conhecido... 

 Pe. Simão de Vasconcelos (Crônica da Cia. de Jesus no Est. do Brasil 1663)
        -- in: TARDE -- Olavo Bilac 1919

a partir deste ralato do padre simão (século 17) -- publicado em "tarde" --, bilac irá desenvolver cinco sonetos: "os monstros", "os matuiús", "os goiásis", "os curinqueãs" e "as amazonas". poemas descritivos sobre seres folclóricos, na tradição indígena brasileira e também o mito das amazonas que remonta a grécia antiga. aqui, as figuras americanas mostradas como seres a se evitar, malignas. pura visão ainda europeia das comunidades do brasil indígena. faziam então espécie de propganda negativa autorizando pessoas a considerar ruins essas comunidades nativas. somente em "as amazonas", último soneto da série "diziam que...", nota-se algum respeito pelo mito feminino. 
bilac não hesita em recuperar, via texto do século 17, uma visão superada da cultura indíegena, o que torna esses poemas, em pleno século 20, puro preconceito... mas é ficção, dirão alguns. mas é bilac, direi eu.

o relato do padre lembra diários de viagem dos séculos 15 e 16, quando navegantes tomados por excesso de misticismo ou bebida acreditavam em monstros marítimos, terrestres que atacariam pessoas, feito sereias ou o gigante adamastor, lá em "os lusíadas".

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