QUE É FEITO DE VOCÊ
Cartola (1908-80)
Ó minha força, a minha vivacidade?
O que é feito dos meus versos e do meu violão?
Troquei-os sem sentir por um simples bastão
Horrorizada como quem vê um fantasma
E um esqueleto humano assim vai
Cambaleando quase cai, não cai
Pés inchados, passos em falso
O olhar embaçado
Nenhum amigo ao meu lado
Não há por mim compaixão
A tudo vou assistindo
A ingratidão resistindo
Só sinto falta dos meus versos
Da mocidade e do meu violão
neste samba, o eu lírico vê que sua mocidade não mais existe. a vivacidade não é mais a mesma. ele demonstra a tristeza pela passagem do tempo. o que se lê, aqui, é o poeta ressentido. no momento da vida relatado no texto, está sem os amigos, sem os versos, sem o violão, e "quas cai, não cai". o "bastão" pode ser uma simples bengala, como pode ser o cigarro. o texto pode ser também uma alegoria aos novos tempos que chegavam à música brasileira, meados dos anos 1950: a chegada da bossa nova e uma "gurizada" que preferia lugares refinados, gente que não era do subúrbio, nem do morro, nesta época. a bossa nova deu outra roupagem ao samba. embranqueceu, por assim dizer, a música típica dos pretos, no rio de janeiro, naquele tempo.
cartola: angenor de oliveira, nascido no rio de janeiro, 1908. falecido na mesma cidade, 1980. torcedor do fluminense. um dos fundadores da escola de samba estação primeira de mangueira, cujas cores foram inspiradas no clube de seu coração. o apelido "cartola" veio dos tempos em que trabalhou como pedreiro e, para proteger-se, usava chapéu.
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