sexta-feira, 2 de setembro de 2016

capitães da areia




o livro se inclui na primeira fase da obra do baiano lírico, revela a diferença de classe e a violência contra os mais pobres, vitimados pelo que se acostumou a ler como “os ricos”. de caráter panfletário e feito em forma de uma sequência de episódios, “capitães da areia” se esforça para expor caráter quase documental, uma vez que as notícias publicadas antes do primeiro capítulo, dariam verossimilhança à narrativa, expondo uma necessidade de fazer da obra uma arma contra a miséria
a narrativa envolve pedro bala, líder dos “capitães”, filho de um grevista morto pela polícia, com um tiro. em torno dele, outros meninos, como sem-pernas, joão grande, professor, gato, querido-de-deus e pirulito, dentre outros.
cometendo furtos e vivendo como gente grande, os meninos, por volta de quatorze ou quinze anos, são mostrados como vítimas da sociedade capitalista. Vale lembrar que o livro sai em 1937, auge do varguismo. os adultos respeitados pelo grupo são apenas dois: padre josé e aninha, mãe de santo. uma cena emblemática, é o momento em que professor (joão josé) toma o capote de um homem que se ofendera com seu desenho, tendo inclusive apanhado deste homem. o capote torna a figura do adulto um estrangeiro, alguém fora do ambiente quente de salvador. os policiais também fazem parte dos sonhos de ódio dos capitães. até a família singela, que adota Sem-Pernas, padece, vítima do assalto dos meninos, pois eram ricos. Professor chega a ser reconhecido, na rua, como um futuro desenhista de sucesso, mas não consegue acreditar na proposta de um homem bem vestido que lhe dá um cartão. o menino prefere ficar com a piteira que recebera, deixando o cartão pela sarjeta.
marcando época, está a varíola, que acaba vitimando ricos e pobres. boa-vida, um dos capitães, é acometido pela “bexiga”, mas fica saudável.
com a chegada de dora ao trapiche, percebe-se um rito de passagem para todo o grupo. seus pais haviam morrido de “alastrim”, a varíola. protegida pelo bando, torna-se uma mescla de menina e menino, ágil, companheira, vestida de homem. presos, dora vai a um orfanato e Pedro ao reformatório. torturado, não revela a morada dos outros capitães. É notícia nos jornais. com ajuda dos demais que ficaram fora, consegue fugir, mesmo enfraquecido por passar oito dias em uma cafua, espécie de solitária. dora é retirada do orfanato pelo bando, muito doente. ela e pedro se amam no trapiche e, em seguida, ela morre. impossível não lembrar romeu e julieta, muito menos esquecer iracema, enterrada na praia, deixando seu amado Martim com sua memória. dora é levada mar adentro, oferecida a iemanjá.  sem-pernas também passa por uma espécie de rito de crescimento, quando se vê seduzido pela quarentona que o acolhe, envolvida no mesmo plano de outrora: entrar para roubar. a partir daí, os capitães irão se dispersar. gato vai para ilhéus, professor parte para o rio de janeiro (capital do país), pirulito torna-se frade, padre josé vai ao interior, em nova paróquia, Volta Seca entra para o bando de lampião, joão Grande vira marinheiro, sem-Pernas suicida-se e querido-de-deus segue sua vida de capoeirista. pedro bala deixa o trapiche, torna-se líder comunista, após se envolver com os doqueiros. fim.




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